Por Adriano Oliveira, especial para o Blog de Jamildo A defesa de uma tese requer interpretação científica do dado advindo da sociedade.
O achismo representa a defesa do desejo e da paixão.
Então, a defesa da tese é exercício científico.
A defesa do querer é ato apaixonado.
Políticos e estrategistas sábios são guiados por teses.
Políticos e estrategistas guiados pelo desejo são apaixonados pela candidatura ou pelo candidato.
A interpretação da conjuntura eleitoral requer a validação ou a falsificação de teses.
Com isto, estratégias eleitorais eficazes são construídas.
Três teses sobre as eleições presidenciais foram apresentadas ao universo midiático após as manifestações de junho de 2013.
A primeira proposição foi que os levantes de junho representavam intensa inquietação social.
Neste caso, eleitores estavam insatisfeitos e sinalizavam, através das manifestações, que não mais desejavam reeleger Dilma.
Foi previsto, inclusive, que intensas manifestações ocorreriam durante a Copa do Mundo.
As manifestações de 2013 proporcionaram o surgimento da segunda tese, qual seja: os eleitores brasileiros, majoritariamente, desejavam mudança.
Diversas pesquisas de opinião realizadas no primeiro semestre de 2014 mostraram isto.
Entretanto, enquanto a mudança era verbalizada pela maioria dos eleitores, Dilma continuava a liderar as pesquisas eleitorais.
Deste modo, era necessária interpretação sofisticada e parcimoniosa do desejo de mudança expresso pelos sufragistas.
A terceira tese era que a realização da Copa do Mundo e a desorganização da infraestrutura ofertada aos turistas e brasileiros intensificariam inquietações sociais que seriam expressas por manifestações.
Em razão disto, a competitividade dos presidenciáveis sofreria alteração.
Neste caso, Dilma declinaria, e Aécio e Eduardo conquistariam eleitores.
Pesquisa realizada pelo instituto Datafolha divulgada em 03 de julho revela que Dilma continua a liderar a corrida presidencial, com 38% de intenções de voto.
Aécio tem 20% e Eduardo, 9%.
A aprovação da presidente Dilma alcança 35%. 65% afirmaram que as manifestações durante a Copa dão mais vergonha do que orgulho.
E 60% estão orgulhosos com a organização da Copa.
Portanto, as três teses apresentadas foram falseadas.
Neste caso, isto evidencia que elas foram formuladas por políticos e estrategistas apaixonados.
Portanto, os dados advindos das pesquisas de opinião não foram adequadamente interpretados e códigos sociais vindos de pesquisas qualitativas foram desconsiderados.
Urge aos presidenciáveis refletirem sobre as suas estratégias futuras.
Adriano Oliveira apresenta-se como doutor em Ciência Política. 39 anos.
Professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Sócio da Contexto Estratégia.
Autor de variados artigos e livros sobre o comportamento do eleitor brasileiro.
Dentre os quais: Eleições e pesquisas eleitorais - Desvendando a Caixa-Preta, Editora Juruá, 2012.