Por Luciano Siqueira, especial para o Comparações em geral são frágeis, quando se trata de fenômenos muito distintos, submetidos a uma gama de variáveis próprias.
O envolver da situação política em diferentes países, por exemplo, quase sempre envolve elementos de essência que guardam distância de anos luz entre si, a começar da formação histórica, econômica social, cultural de cada um. “Na China é assim, bem que poderia ser aqui também…”, não tem nada a ver.
Entretanto, assumindo a superficialidade própria das paixões futebolísticas e, em certa medida, políticas também, não resisto à analogia entre o que está acontecendo na Copa e o que frequentemente ocorre na luta política.
Refiro-me ao espetacular desempenho de selecionados aparentemente frágeis diante de adversários reconhecidamente fortes.
Certamente o exemplo mais notável é o da Costa Rica, que concluiu o seu grupo em primeiro lugar, desbancando Itália, Inglaterra e Uruguai.
O mais fraco, mercê da unidade de propósitos, organização, capacidade de resistência e sagacidade converteu-se em vencedor, contrariando todas as previsões.
Derrubou apostas no mundo inteiro.
Analogia com a política, sim.
Vale lembrar a Insurreição Pernambucana, que expulsou os holandeses do Brasil.
Nas decisivas Batalhas dos Guararapes, a 10 quilômetros do Recife, em abril de 1848 e em fevereiro de 1849, as forças lideradas por João Fernandes Vieira, Felipe Camarão e André Vidal de Negreiros – condutores de uma frente política e social ampla – foram capazes de derrotar o poderoso exército holandês.
Os nossos, segundo descrevem os historiadores, munidos de armas toscas, inclusive espingardas de caça, atraíram as forças holandesas para terreno acidentado, onde praticaram a guerra de emboscada.
O inimigo, cortejado mundo afora por vitórias expressivas alcançadas em guerras em outras plagas, armado com o que havia de mais moderno, era entretanto treinado para a guerra de posição, em terreno plano.
Em condições adversas, o mais forte soçobrou diante da inventividade tática e capacidade guerreira do mais fraco.
Claro que o futebol, na forma como se pratica hoje, pelo menos nos grandes centros, move verdadeiro arsenal científico e tecnológico, funde força física e competência tática que torna previsível o resultado de muitas competições.
Mas não evita a criatividade humana, que combina força física e ordenamento tático com inventividade e malícia, sobretudo dos sul-americanos e africanos (esses últimos ainda desorganizados no meio do campo e na defesa).
As “zebras” muitas vezes não merecem essa denominação, antes devem ser enaltecidas como belos exemplos de superação no campo da luta.
O fato é que esse é um dos muitos traços que compõem o que se tem chamado a Copa das Copas, acentuando o sucesso do megaevento e afirmando a capacidade realizadora do Brasil e o congraçamento com povos do mundo inteiro.