Blog Imagem “Qualquer pessoa em sã consciência é contra esse projeto”, diz Valdimarta, do Coque “Não sei.” Essa foi a resposta sobre o Projeto Novo Recife mais ouvida na manhã desta quarta-feira (4), no Coque e nos Coelhos, ambos no Centro do Recife, próximo ao Cais José Estelita.
Apesar de estarem tão perto do terreno para onde estão planejadas as 12 torres, parque com quadras de esporte, ciclovias e até uma biblioteca, muitos moradores desconhecem a existência do projeto imobiliário.
Entre os que já têm informação, não há consenso: enquanto alguns defendem que o espaço deveria ser destinado a habitações populares, outros acreditam que as comunidades serão beneficiadas por empregos gerados pelo projeto.
Leia também: Consórcio Novo Recife confirma presença em reunião com Geraldo Julio PCR suspende alvará de demolição dos galpões do Cais José Estelita Geraldo Julio vai ouvir Novo Recife, MPPE e MPF nestas quinta e sexta Em nota oficial, Consórcio Novo Recife lembra ao prefeito Geraldo Julio cumprimento da ordem jurídica Estão na memória de Chesma Ferreira de Lima, mecânico de 50 anos, os tempos em que andava em meio à lama das ruas do bairro dos Coelhos, onde vive desde criança.
Em meio século, muitas ruas foram asfaltadas, porém as palafitas e a falta de estrutura persistem na margem do Rio Capibaribe.
Por isso, mesmo não sabendo sobre o Projeto Novo Recife, já afirma: “Se é para derrubar, que seja para fazer casas para o pessoal que não tem.” Embora também desconheçam o projeto, seis outros moradores dos Coelhos concordam com ele, além de dez do Coque. “Um espaço daquele deveria ser usado para a necessidade de quem mais precisa: escolas, postos de saúde, lazer. É para o bem-estar de todos”, sugere ainda o auxiliar de serviços gerais desempregado Felipe José, 22, morador da mesma comunidade Coque.
Amara, dos Coelhos, afirma que Novo Recife poderá ser atrativo turístico no Recife Vivendo nos Coelhos há mais de 40 anos, a aposentada Amara Maria da Silva, 67, considera que o Novo Recife terá impacto positivo para a paisagem da cidade. “É bom construir porque o Recife é uma cidade muito bonita, só que tem áreas muito mal cuidadas, como essa em que eu moro.
Chegam muitos turistas e essas palafitas deixam muito feia.
Só moro aqui porque não tenho condições de sair”, diz.
A falta de orgulho de Amara pelo bairro é provocada por problemas como violência e ausência de saneamento básico.
O vendedor ambulante Sérgio Gonçalves da Silva, 47, também é a favor do projeto, apesar de afirmar que não afetará os Coelhos significativamente, exceto pelos empregos gerados.
A questão é também levantada no Coque, onde jovens desempregados têm esperança nos empregos que o empreendimento pode gerar. “O Coque é um ótimo lugar para morar, só não tem oportunidade para nós, jovens”, afirma Leandro Feitosa, 19, desempregado.
Segundo o Consórcio Novo Recife, serão cerca de 24 mil postos diretos e indiretos durante a construção, além de dois mil fixos com o final da obra.
Da mesma comunidade, a cabeleireira Valdimarta Victor Ferreira, também 22, questiona esses empregos. “Não queremos apenas vagas para serviços gerais, zelador.
Não desmereço essas profissões, mas queremos ser mão de obra qualificada, o que o projeto não vai trazer”, diz.
Veja, no vídeo abaixo, o posicionamento dela sobre o Novo Recife: Lideranças comunitárias que procuraram a Prefeitura do Recife no início da semana para se manifestar a favor do projeto afirmam que têm uma parceria com as empresas que formam o consórcio - Moura Dubeux, Queiroz Galvão, GL e Ara Empreendimentos.
Através dessa união, a capacitação e as vagas que o Novo Recife geraria são pontos positivos para os bairros.
No entanto, nem nos Coelhos nem no Coque, os moradores conheciam a parceria ou reconheciam as representações dos movimentos.
Nenhum deles foi informado através desses líderes sobre o projeto.
ENTENDA A POLÊMICA - Com investimento de R$ 800 milhões, o Novo Recife prevê a construção de 12 torres comerciais e residenciais na área do cais, com ações mitigadoras como a construção de um parque linear e de um centro cultural e a restauração da Matriz de São José.
Desde o último dia 21, quando o consórcio responsável pelo projeto conseguiu um alvará e iniciou a demolição dos armazéns do Cais José Estelita, cerca de 50 pessoas passaram a acampar no local para impedir a derrubada das construções.
As construtoras conseguiram a reintegração de posse na Justiça, que ainda não foi feita.
Após pressionar a a Prefeitura do Recife, o grupo conseguiu, em reunião realizada com o prefeito Geraldo Julio (PSB) e instituições, a suspensão do documento.
Nestas quinta (5) e sexta-feiras (6), o gestor tem reuniões com representantes das construtoras e do Ministério Público de Pernambuco e Federal.
A pauta será a disponibilidade para a revisão do projeto.