Por Jamildo Melo, editor do blog Já escrevi aqui que as construtoras que demandam o projeto imobiliário Novo Recife haviam perdido a batalha da comunicação.
Ou por covardia ou por leniência apostaram mais na defesa do empreendimento por advogados nos tribunais do que um esforço maior de esclarecimento e informação junto ao conjunto da sociedade.
Deu no que deu e deve custar ainda muito mais caro aos investidores, senão a própria inviabilização.
Os detratores do projeto, é preciso reconhecer, foram muito mais eficientes nesta área, difundindo inverdades como se verdades fossem, simplesmente pelo fato de que, em tempos de facebook, o que vale mesmo é o efeito manada, não a verdade em si.
Basta ver que apenas na semana passada as empresas decidiram criar um twitter para prestar informações.
Não há sequer um porta-voz no grupo das empresas para rebater a campanha negativa contra as obras que remodelariam o Cais José Estelita.
Diante da confusão proposital, o conteúdo inicial da discussão perdeu completamente a importância, restando tão somente a forma como os fatos acabaram sendo tratados, em prejuízo do bom senso.
Nesta terça-feira, o prefeito do Recife surpreendeu a todos, não apenas às construtoras, mas também aos que militam contra o empreendimento, ao abrir a reunião na PCR com a notícia de que estava suspendendo o alvará de demolição.
Não foi pressionado a fazer isto porque já abriu a reunião com a divulgação da decisão.
Se o fizesse depois das falas, certamente seria acusado de ter aceito a pressão da audiência.
O gesto acabou deixando os críticos de queixo caído.
Um dia depois, estão desnorteados, homenageando-lhe o engajamento na boa causa, na visão deles.
Poucas horas antes da decisão, era o cara que não aceitava dialogar, era o autoritário, não topava nem sentar à mesa para discutir.
Não havia a hipótese de tomar uma decisão contra o consórcio de empresas.
Nessa luta do bem contra o mal, fictícia, mas fácil de ser engolida pelos incautos, pela massa de manobra juvenil, Geraldo Julio estava sendo acusado de acabar o futuro do Recife.
Do outro lado, os justos e humildes contra o poder econômico impiedoso e voraz.
Como o consórcio de construtoras nunca fez uma defesa pública do projeto, nunca deu a cara à tapa, inteligentemente os detratores do projeto partiram para cima do prefeito Geraldo Julio, uma figura pública vulnerável, mais ainda em um ano eleitoral como 2014.
A causa virou simpática, não apenas aos jovens, mas até parte da classe média.
Se eu não fosse uma pessoa de convicções fortes, já teria aderido à campanha contra o projeto.
Domingo passado, pelo que me foi relatado, viu-se o paraíso na terra, na ocupação dos velhos armazéns.
Só faltou um anjo tocando harpa, enquanto professores da UFPE ensinavam antropologia às criancinhas.
Assim, a inflexão da gestão socialista não é de toda ruim, porque acaba criando as condições para que os defensores do projeto possam aparecer e apresentar seus argumentos, sob pena de, omissos, assistirem o projeto ser enterrado em definitivo e ver nascer ali um novo e belo parque como o Memorial Arcoverde.
Será que haverá um lado a favor?
Eu penso que a maioria silenciosa do Recife é a favor, mas não quer se envolver com a polêmica.
Sei que não é fácil.
A marcha da insensatez não perdoa seu ninguém.
As pessoas que até aqui ousaram defender a iniciativa - nem o queridinho Celso Marconi, cineasta, cabeçista, safou-se - são agredidas publicamente ou troladas pelas redes anti-sociais.
São as mesmas pessoas que pedem debate.