Por Jamildo Melo, editor do blog O Blog de Jamildo respeita profundamente a posição adotada pelo prefeito do Recife, nesta manhã, em relação ao projeto imobiliário Novo Recife.
Uma das coisas que diferenciam essa coluna eletrônica é justamente a pluralidade, o respeito ao contraditório e à democracia.
Apesar desta disposição de princípios, por uma questão de coerência pessoal, não posso deixar de discordar da iniciativa adotada pelo prefeito socialista, por uma série de fatores.
Já havia escrito aqui que Geraldo Julio não poderia curvar-se a uma ditadura da minoria, embora estridente.
A decisão só se explica se o objetivo for tirar um pouco da pressão de todo o tumulto gerado, a partir da concessão do alvará de demolição.
No meu entendimento, um dos primeiros erros da gestão foi não condicionar o recuo a uma desocupação da área, que é privada, foi comprada em um leilão público.
Isto é basilar.
Há uma decisão judicial, irretocável, contra o esbulho que os construtores estão sendo alvo, privados do uso de sua propriedade.
Como gestor público, entendo que Geraldo Julio deveria exigir a desocupação imediatamente, antes de ceder aos invasores.
Acabou desmoralizando a Justiça, cuja decisão dada há uma semana não se efetiva. É verdade que tem gente torcendo para levar um tiro da PM de João Lyra na desocupação e virar mártir da galera, em tempo real.
Torço para que não haja violência.
Deve ter eterno candidato a alguma coisa até pagando para ser agredido em uma barafunda como esta.
O problema é que estamos em um ano eleitoral.
Seus aliados vão trombetear que ele mostrou sensibilidade, ouvindo supostamente a sociedade.
O que pode estar movendo o prefeito, neste movimento de recuo, é o receio natural do uso eleitoral da polêmica contra o aliado Eduardo Campos, candidato a presidente.
A jogada de Geraldo Julio é de alto risco.
Que tamanho é arriscada?
O objetivo parece ser credenciar-se como mediador.
Não é fácil e ele deve saber disto.
Até porque, pelo que já escreveram e afirmaram pelas redes sociais, muitos do que sentaram à mesa com o prefeito hoje o que querem é a sua desmoralização como gestor, por questões partidárias.
Neste contexto, seria justo, no melhor interesse da cidade, dos moradores do entorno, manter o projeto no limbo até passar as eleições?
Sim, porque a decisão de Geraldo Julio não existe solta no espaço.
Se não foi combinada com os russos, ela exige que o Novo recife ceda e recue, abrindo mão de mais concessões.
Elas são possíveis ainda?
Seria justo?
Se as empresas não aceitaram, o prefeito vai aceitar sair desmoralizado?
O prefeito vai se dobrar, novamente, desta vez ao mercado imobiliário?
No extremo, o que poderia acontecer nesta queda de braço?
Em uma eventual represália, desapropriar a área para ter um parque público?
Pode até fazer, mas não funcionaria na prática.
Veja-se o exemplo do Parque de Santana, do Memorial Arcoverde, sem uso misto estarão sempre condenado a serem áreas fantasmas da cidade.
No começo desta semana, os próprios organizadores do movimento, em uma entrevista ao JC, disseram com todas as letras que as motivações são políticas e que iriam colocar a bomba no colo de Geraldo Julio, tentando emparedá-lo.
O que faz Geraldo?
Deixou-se emparedar.
Geraldo não falou, mas essa coisa não vai parar por aí.
Vai ter desdobramento.
Não adianta oferecer absolutamente nada porque os grupos contrários vão querer sempre o intangível, uma vez que são, por princípio, contrários ao empreendimento privado.
Curiosamente, a verticalização, ideologicamente tão criticada, só é tão grande porque as empresas tiveram que ceder quase metade da área para uso público.
Com metade da altura nos prédios, as empresas não precisariam ceder tantas áreas.
Seriam criticadas do mesmo jeito.
Do outro front, o empresarial, sabe-se que o risco que corre o pau, corre o machado.
Ou os construtores nacionais não estão de olho na tibieza de nossa Justiça, na falta de respeito à ordem jurídica que se assiste aqui, agora?
Também não se falou em prazo.
A quem interessa a eternização desta discussão, após seis anos?
Os grupos econômicos não têm culpa se a legislação é precária, não prevê isto, não prevê aquilo.
Que culpa eles têm se há uma vazio legislativo, anacrônico e blá, blá, blá.
Por isto, não acredito que haverá clima favorável a diálogo algum simplesmente porque, como já escrevi aqui há vários anos, o movimento é político, tocado por grupos radicais e recentemente apropriado até por deputados do PT.
Tem mais.
Depois de ter dobrado as contrapartidas ao projeto, de R$ 30 milhões para mais de R$ 60 milhões, dificilmente as construtoras que tocam o projeto aceitarão qualquer nova imposição.
E elas estarão certas.
O que se ouve é que não cabe mais, já passou, as empresas foram ao limite, sem falar que todo o processo é muito mais oneroso do que a fatura com as mitigações.
Os grupos atenderam todos os requisitos legais e os grupos de pressão tanto sabiam disto que, desmerecendo essa via, apostaram na politização do caso.
O Ministério Público de Pernambuco, como de resto o federal, também é outro complicador nesta polêmica toda.
Lá fora, onde as coisas funcionam, há países em que o MP tem prazo para se posicionar e para questionar.
Por aqui, o MP tem que dar pitaco em tudo, e quer ter a última palavra, agora realizando suas peças até pelo Facebook.
Não pode dar certo nunca, pois estimula o personalismo, até mesmo de gente frustrada com a atividade política mais tradicional.
O projeto é importante demais para a cidade.
Numa palavra, não acredito, acho falacioso, dizer que é possível a essa altura do campeonato dar um presente maior para o Recife, com novas alterações no projeto imobiliário Novo Recife.
Torço para estar equivocado.
E desejo boa sorte ao prefeito Geraldo Julio.