Por Michael Zaidan Filho É natural que os políticos, em plena campanha eleitoral, mudem e produzam atos retóricos destinados a classes de eleitores especiais (os empresários, os militares, os religiosos etc.).

Mas a peroração eleitoreira tem limites quando ofende à consciência democrática e aos direitos de centenas de famílias que tiveram seus parentes chacinados pela ditatura militar, e ainda hoje aguardam uma resposta oficial sobre o paradeiro deles.

O que estamos assistindo nesses dias é um verdadeiro festival de oportunismo político por parte de certo candidato, com o fim de agradar aos militares e os empresários do agro-negocio. É inconcebível (e uma falsificação da história) dizer que a anistia permitida pela ditadura militar no Brasil foi ampla e irrestrita. É tão falsa e mentirosa a declaração que se choca com o fato de que o último preso político (o filho de Nelson Rodrigues) ter sido solto, bem depois da lei da anistia, e pelo fato do pai está agonizando.

Ele que tanto pediu aos militares pela soltura do filho, Nelsinho.

Pior é ofensa à memória dos bravos militantes que lutaram pela caráter amplo e irrestrito da anistia e foram derrotados.

Admitir, por puro oportunismo, que a anistia foi ampla e irrestrita e ser contra a reabertura dos processos contra os agentes do estado que cometeram crimes contra a humanidade e os direitos humanos, é uma flagrante contradição com a medida que criou as Comissões pela verdade e a Justiça, mesmo que tenha sido feita para agradar aliados e ex-inimigos, como aconteceu em Pernambuco.

Das duas, uma: ou o candidato se coloca ao lado dos militares e daqueles que acham que houve uma guerra no Brasil e a violência exercida pelos agentes do estado foi justa e não há o que apurar ou informar; ou ele se coloca ao lado da sociedade civil brasileira que quer, exige, clama por justiça e verdade sobre o que aconteceu durante os anos de chumbo.

Não dá é para ficar no meio-termo, agradar aos militares e aos familiares das vítimas da ditadura militar.

Se o atual candidato e ex-governador tivesse algum familiar seu ou amigo chacinado pelo regime de exceção, ele não agiria desta forma.

Pelo contrário, a sua família e seus amigos hoje desfrutam de todo prestígio e regalias próprias das famílias reais.

Mas a maioria das famílias plebéias que não contam com as benesses do poder e dos aduladores de sempre, esperam - na chuva e no sol - pela plena reparação dos crimes cometidos em nome das famigeradas “razões de estado” contra seus parentes e amigos.

Talvez esteja na hora de se iniciar no Brasil e em Pernambuco um novo movimento pela reparação desses crimes.

E os democratas de ocasião terão que retirar suas máscaras e assumir suas verdadeiras identidades.