Por Adriano Oliveira, especial para o Blog de Jamildo A interpretação dos eventos sociais requer parcimônia e olhar profundo no conteúdo social.

Pesquisas quantitativas podem conduzir o estrategista ao erro já que a análise dos números é essencialmente objetiva.

A subjetividade é necessária na interpretação dos porcentuais.

Por isto, as pesquisas qualitativas são necessárias.

O mergulho na realidade social requer interpretação de causa e efeito.

E não simplesmente considerar a caracterização dos eventos.

A arte de pensar claramente de Rolf Dobelli e o Fetichismo do conceito de Luis de Gusmão são duas obras que norteiam as minhas interpretações das pesquisas eleitorais.

O termo mudança continua a guiar as estratégias dos presidenciáveis de oposição.

Pesquisas diversas mostram que a maioria dos brasileiros deseja mudança.

Este é o dado objetivo.

Entretanto, recente pesquisa do Ibope (Maio/2014) mostrou que 71% dos brasileiros estão satisfeitos com a vida que vem levando hoje.

Neste caso, se eles estão satisfeitos, por que desejam mudar?

Mudança é um termo que sugere movimento.

Portanto, proponho que se considere a seguinte hipótese: os eleitores brasileiros desejam que o Brasil continue a mudar.

Se a hipótese apresentada é considerada, o raciocínio que conduz a criação da estratégia eleitoral partirá da seguinte premissa: parte dos eleitores brasileiros reconhece que o Brasil mudou nos anos recentes.

E desejam que esta mudança continue.

Isto significa, portanto, que a mudança desejada não representa ruptura com a ordem atual, na qual estão presentes conquistas.

Mas a manutenção das conquistas, sem o retorno a dado ponto temporal, no qual, para parte do eleitorado, não existiam mudanças e conquistas.

A pesquisa do Ibope (Maio/2014) revela que 28% dos eleitores consideram “Bom” o governo da presidente Dilma.

Neste universo, Dilma obtém 55% de intenções de voto.

Aécio Neves, 7%; e Eduardo Campos, 12%.

Ressalto que 7% consideram “ótimo” o governo Dilma.

Portanto, os dados sugerem que se a avaliação do governo Dilma declinar, Eduardo poderá absorver eleitores dilmistas.

Entretanto, existem condições para que a aprovação do governo Dilma decline mais?

A referida pesquisa do Ibope mostra que 20% dos eleitores afirmam que o governo Dilma é “Péssimo”.

Aécio obtém neste universo eleitoral, 35% de intenções de voto.

Eduardo Campos tem 30%.

Conclusão: o principal adversário do PSB é o PSDB.

Ou seja: se a reprovação de Dilma aumentar, Aécio e Eduardo tendem a crescer.

Mas esta afirmação contradiz com a assertiva do parágrafo anterior?

Sim.

Não está claro, portanto, quem será fortemente beneficiado caso a avaliação de Dilma decline.

A pesquisa do Ibope (Maio/2014) sugere também que existe “teto” para o crescimento eleitoral da presidente Dilma.

No primeiro turno, a presidenta obtém 40% de intenções de voto.

No segundo turno, o seu porcentual máximo é de 43%.

Mas tal teto me conduz a óbvia constatação: a pesquisa do Ibope mostra que a Avaliação da administração continua a sugerir associação significativa com a intenção de voto.

Neste sentido, é possível que a avaliação positiva de Dilma decline mais?

Esta é a indagação fundamental para o PT, PSB e o PSDB.

Adriano Oliveira apresdenta-se como Doutor em Ciência Política. 39 anos.

Professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

Sócio da Contexto Estratégia.

Autor de variados artigos e livros sobre o comportamento do eleitor brasileiro.

Dentre os quais: Eleições e pesquisas eleitorais - Desvendando a Caixa-Preta, Editora Juruá, 2012.