A quem interessa um novo Caiçara no Cais José Estelita? “Sobre as críticas do Blog do Jamildo à nossa participação no movimento ?#?OcupeEstelita” Edilson Silva.

Militante do PSOL e cidadão ativo na cidade do Recife.

Em editorial publicado no dia de ontem em seu blog no NE10 (link abaixo), o jornalista Jamildo Melo tece críticas, faz ilações e se posiciona sobre o processo de resistência popular contra o Projeto Novo Recife, no Cais José Estelita.

No referido editorial, o blogueiro cita o autor deste esclarecimento, razão pela qual me afeto a fazer este contraditório.

Envio este para o blog do Jamildo, esperando que o outro lado da versão – o direito ao contraditório jornalístico - seja respeitado.

Vamos ver.

A quem interessa um novo Caiçara no Cais José Estelita?

O jornalista Jamildo Melo precisa ser respeitado – e até destacado positivamente - em sua opção de ser transparente em relação às opiniões de seu blog. É uma atitude louvável, ética, desejável por parte de quem faz jornalismo.

As críticas que por ventura fazemos em relação a isto trata de outro mérito, notadamente a forma desrespeitosa como trata as posições políticas divergentes das suas e não raro os sujeitos que emergem ao debate em contraposição às suas verdades. Óbvio que, por exemplo, se na Grécia vivesse, Jamildo Melo teria o direito de defender que o Parthenon fosse privatizado ou demolido para a construção de um shopping, viaduto, túnel ou qualquer outro investimento que também pudesse ser feito em Miami.

Faria parte da democracia e da liberdade respeitar sua opinião, por mais indefensável que fosse, mas é natural que a sociedade, em seus segmentos majoritários ou não, se insurgisse contra tais propostas, sobretudo quando elas tendessem a se materializar. É da política e da democracia.

Nós do PSOL, e eu Edilson Silva em particular, sentimo-nos muito confortáveis em ser confundidos com aqueles que se opõem coerentemente ao que o blogueiro chama de verticalização da cidade, e que nós chamamos de luta em defesa de uma cidade para as pessoas.

Sentimo-nos muito prestativos com nossa cidade ao nos “destacarmos e especializarmos” na defesa de uma horizontalidade cidadã no seu chão: nossa mobilidade, nossas calçadas, nossas ciclovias, nosso transporte coletivo, nossa segurança pública, nosso direito ao vento, ao sol, à contemplação dos nossos patrimônios artísticos, culturais, ambientais, naturais, à nossa memória afetiva com nossa história.

Afirmamos que a insegurança jurídica que acontece em Recife nos últimos anos se dá não pela luta daqueles que não pedem mais que o respeito ao ordenamento jurídico, mas exatamente por conta da ingerência de construtoras sobre o planejamento da nossa cidade.

Como se uma quadrilha fosse, setores empresariais articulam-se com o poder público para colocar a cidade de joelhos diante da lógica do lucro fácil e rápido para poucos, desrespeitando as leis gerais, as normas específicas, os procedimentos formais mínimos exigidos e que dão contorno e amparo ao que se chama segurança jurídica.

Patrimônios públicos, culturais, imateriais, ambientais, privados quando de pessoas humildes, estão em constante condição de insegurança diante de uma cidade em que o poder público foi capturado por interesses privados.

Por fim, acusar os cidadãos e cidadãs que se mobilizam contra o projeto Novo Recife de não terem mandato algum para interferir nos rumos desta controversa obra, já revela a visão limitada do papel que está consagrado à participação popular nos destinos da coisa pública.

O povo tem direitos.

Mesmo as minorias tem direitos.

Para além disso, estavam entre os manifestantes do Ocupe Estelita o quinto vereador mais votado da cidade, Raul Jungmann, além do terceiro mais votado, este que lhes escreve, que mesmo não sendo diplomado por regras – boas ou ruins – impostas pelo Tribunal Eleitoral, não abriu e não abre mão do mandato cidadão que a cidade lhe conferiu.

Estamos plenos em legitimidade política neste processo.

O poder público e os seus parceiros no sangramento da cidadania de nossa gente estão experimentando a lida com segmentos indóceis às suas políticas costumeiras de cooptação de movimentos.

A luta está apenas começando.