Por Manuela Modesto, especial para o Blog de Jamildo Segundo Santo Agostinho a esperança tem duas filhas lindas: a indignação e a coragem.

A indignação nos ensina a não aceitar as coisas como estão; a coragem a mudá-las.

Como nenhuma outra, essa frase me ajuda a entender a postura que tive quando de repente, não mais que de repente me vi caindo de paraquedas em um mundo não preparado para minha nova realidade…

Eu estava paraplégica e usando cadeira de rodas em cidades concebidas para pessoas sem deficiência física, mas a esperança de ver e fazer tudo diferente me impulsionou a não desistir e seguir em frente.

Não posso mentir que desistir não passou por minha cabeça, afinal não sou tão obstinada assim, porém prosseguir sempre foi minha decisão diante das inúmeras negativas que a vida me pregava.

Enfim, não sei quais os desígnios de Deus para mim, mas sempre espero que a vontade dele, em qualquer tempo, acabe por coincidir com a minha.

O fato é que ao tentar reassumir as rédeas da minha vida, após 9 meses de internação hospitalar, deparei-me com a decepção de encarar uma cidade como São Paulo com mínimas condições de acessibilidade e a minha frustração foi ainda maior quando, 1 ano após o meu acidente, retornei a minha cidade, Recife, e me confrontei com uma cidade inacessível, com calçadas inacessíveis, com ausência de rampas, com a inexistência de taxis adaptados, com taxistas que se negavam a transportar cadeirantes, com a maioria dos prédios de uso público sem serem adaptados e claro com o preconceito.

Eu sabia que não seria fácil, posso até confessar que não estava acostumada a facilidades na minha vida de engenheira de obras, o que eu não contava é que seria tão difícil, que eu me sentiria tão isolada, tão ilhada aos poucos locais de acessibilidade nas cidades e olha que encaro tudo…

Mas como encarar lutar para voltar a trabalhar e ter uma vida razoavelmente normal sem ter um sistema de mobilidade urbana adequado, esperar mais de 1 hora por um taxi não adaptado e ele se negar a me transportar, apenas por eu ser cadeirante, ver meus amigos passarem horas esperando um ônibus, que na maioria das vezes tem seus elevadores quebrados e serem desrespeitados pelos motoristas e outros usuários, ver as vagas de estacionamento para pessoas com deficiência ocupadas por pessoas sem deficiência e outros tantos locais sem vagas reservadas, ir para inúmeros locais públicos e de uso público sem acessibilidade e não os conseguir utilizar, não conseguir utilizar as calçadas inacessíveis e ter que disputar com os carros nas vias urbanas, ir a teatros e eventos sem locais adequados a pessoas com deficiência, sem falar na ausência quase unânime de banheiros adaptados.

Daí veio a indignação, afinal segundo a constituição brasileira o direito de ir e vir deveria ser para todos, e isso inclui as pessoas com deficiência, que representam, segundo o último Censo de 2010, quase 24% da nossa população brasileira e no entanto vejo esse direito ser ultrajado diariamente, o que não deveria ser considerado como algo natural.

Não que eu encare a minha vida como predestinada a infelicidade após a paraplegia, mas há de se compreender a alta restrição a qualidade de vida as pessoas com deficiência devido a falta de acessibilidade, que por lei já deveria estar sanada, já que temos uma boa legislação que deveria assegurar o direito as pessoas com deficiência.

A lei 10098, o decreto 5296 e mais a Convenção Internacional dos Direitos das Pessoas com Deficiência da ONU, ratificada no Brasil como emenda constitucional, sob o Decreto 6949, deveriam por si só já serem suficientes para garantirem a acessibilidade das nossas cidades, mas a eficácia dessa legislação só será possível com uma fiscalização mais rigorosa e com a participação cada vez maior da população na consolidação desse caminho.

Assim, por que não nos unirmos para emplacarmos juntos o PACTO pela ACESSIBILIDADE?

O Pacto pela Acessibilidade seria o compromisso da sociedade, incluindo os nossos representantes do executivo e do legislativo para a consolidação dos Direitos das Pessoas com Deficiência, o aumento das condições de acessibilidade das nossas cidades e a consequente conquista da Dignidade Humana para Todos.