Por Gustavo Krause, especial para o Blog de Jamildo Nas Copas do Mundo, futebol e política andam juntos.

O que difere é a finalidade e a intensidade com que são usados.

No Brasil, análises e opiniões se dividem sobre a influência dos resultados nos campos sobre a decisão do eleitor nas urnas.

O debate esquentou por aqui.

O tema será tratado em dois artigos.

Além das funções organizadora e reguladora, a FIFA exerce um papel eminentemente político (209 filiados, 16 a mais do que a ONU). É detentora do poder máximo sobre as competições de futebol.

Onde há poder, há política para o bem ou para o mal.

Escolher a sede da Copa é uma decisão política, ainda que apoiada em critérios objetivos e compromissos explícitos.

A primeira Copa, realizada em 1930, por exemplo, contemplou o mérito do pequenino Uruguai, bicampeão olímpico (1924 e 1928).

Se, de um lado, a escolha da sede é política, de outra parte, os países escolhidos fazem uso político das copas de acordo com os interesses que permeiam a conjuntura histórica das nações.

Neste sentido, vai da apropriação econômica do evento às possibilidades de legitimação do sistema de poder.

As Copas de 1934/38.

Foram usadas como instrumento de propaganda fascista.

A ordem de Mussolini era “Vencer ou Morrer”.

Os jogadores adiaram a morte.

Em 38, o talentoso atacante, Meazza, ao receber a taça Jules Rimet, saudou o Presidente da França com o gesto fascista e passou para história como o único capitão de equipe campeã a ser estrepitosamente vaiado.

A Copa de 1950.

A primeira depois da Segunda Guerra Mundial contemplou o Brasil, um aliado (apesar das hesitações getulianas) das forças que venceram os algozes da democracia liberal.

Vargas sucedeu Dutra.

Pelo voto.

A profunda decepção com a Copa não mexeu com a fidelidade governista das urnas.

Preterida a Argentina, o Brasil mobilizou-se para mostrar ao mundo que era uma nação capaz realizar a copa, de construir o maior estádio do mundo e encantar o planeta com um futebol brilhante.

O final infeliz a gente sabe: o “maracanazo”, a mais inesperada das derrotas; a mais desavergonhada politicagem em proveito da provável vitória; a alma brasileira ferrada pela novidade psicanalítica, o complexo de vira-latas.

A Copa de 1958.

Um negro genial, adolescente, e um cafuzo de pernas tortas lideraram “o vareio de bola" que endoidou o sputinik, obrigou o Rei da Suécia a reverenciar o gesto imortalizado por Bellini e detonou o complexo.

Ninguém, à exceção de Nelson Rodrigues, acreditava na seleção.

A preparação adotou métodos modernos.

O psicotécnico ferrou Garrincha.

Os boleiros ferraram o psicotécnico e escalaram Mané.

Naquela época, o Brasil vivia um momento mágico: Juscelino, bossa-nova, democracia e progresso.

O Brasil ganhou a Copa, marcou gols de bela feitura e as urnas funcionavam.

A Copa de 1970.

Nesta época, não tínhamos copa, não tínhamos urnas e carecíamos de gol.

A vitória opaca de 1962 fora soterrada pelo abalo sísmico do futebol-força de 1966.

Tempos difíceis.

O auge do ciclo militar: uma economia atlética e liberdades caquéticas.

No futebol, descrédito.

Aí a contradição inacreditável: um comunista de carteirinha, inteligência privilegiada e tamanha coragem que nele caberia o titulo de sua “Insolência João Primeiro e Único”, muda tudo.

Saldanha abriu a jaula e colocou em campo 22 “feras”.

O João Sem Medo arretou-se com interferências indevidas e jogou a toalha.

Antes, pavimentou o caminho para o disciplinado Zagalo e uma comissão técnica engalanada.

Tiveram o bom senso de não misturar hierarquia, disciplina e a alegria libertária de jogar futebol.

Juntaram grandes craques.

Sem posições definidas e uma tarefa sagrada: tratar com carinho e intimidade sua majestade, a bola.

Não deu outra: a taça Jules Rimet é nossa…para sempre.

A Copa de 1978.

O refinado futebol argentino jamais precisou de governos civis ou militares para conquistar troféus.

Porém, o ditador Jorge Videla precisava desesperadamente do título mundial.

Para os donos do poder absoluto, não era suficiente a boa qualidade do time argentino.

Armaram.

A goleada dos argentinos na seleção peruana tirou o Brasil da final.

Coutinho desabafou: “o Brasil é o campeão moral”.

Este título não se contabiliza, mas um indigno conluio maculou a ética esportiva. (Continua))