Por Michel Zaidan Filho No último dia 26 deste mes, o Espaço Socialista realizou um grande seminário intitulado: “Outro Pernambuco é possível”, diagnósticos e perspectivas, cujo fim era analisar os resultados dos dois mandatos do ex-governador e candidato, e traçar diretrizes para as eleições estaduais e nacionais de outubro.
Uma das mesas tratava especificamente do “neo-desenvolvimentismo” como característica da política econômica empregada por Dilma e pelo ex-mandatário de Pernambuco.
Esse é um tema que suscita muitas paixões e discussões acaloradas.
Estivemos ou não diante de um ciclo virtuoso de investimentos, emprego e renda, que começou no governo do PT e que ainda continua, como afirma o ministro Aloisio Mercadante?
Ou estaríamos no fim desse ciclo e experimentando as consequências da crime econômica mundial sobre o país? - Essa é a questão.
O governo do presidente LULA foi altamente beneficiado pelo “céu de brigadeiro” da economia internacional.
Acumulou divisas.
Exportou as “commodities”.
Teve um bom desempenho nos índices de crescimento econômico.
Controlou a inflação.
Manteve o equilíbrio (com superávit) da balança comercial.
Distribuiu renda através de bolsas, aposentadorias e aumento do salário real.
Mas a situação mudou, com a posse da presidente Dilma.
O “céu de brigadeiro” da economia internacional se foi.
Veio uma tempestade iniciada com o estouro da bolha imobiliária norte-americana e da crise do euro.
Essa crise que atinge diretamente o resto do mundo, dado o grau de interdependência da economia mundial, foi enfrentada no Brasil com um conjunto de medidas econômicas, chamado de “neo-desenvolvimentismo”, em referência à política desenvolvimentista de Getúlio Vargas.
Em flagrante oposição ao fundamentalismo fiscal do governo de FHC, que privilegiou o combate a inflação com uma terapia fiscal e financeira (taxa de juros, superávit fiscal alto, e meta de inflação apertada), o governo Dilma resolveu estimular a economia do país, num contexto de crise internacional, através do financiamento público-estatal de obras de infra-estrutura (o PAC e as obras da COPA), o consumo privado das famílias e a venda de automóveis, casas e eletro-domésticos por meio da isenção do IPI.
Essa estratégia funcionou durante um certo tempo, até atingir sua exaustão com o inadiplimento dos consumidores, o fim da redução do IPI, o encarecimento do crédito, o superávit primário alto, o desequilíbrio da balança de pagamentos, a retomada da inflação, o baixo crescimento econômico e o estrangulamento da infra-estrutura do país (a crise energética, entre outros pontos do estrangulamento).
A estratégia neo-desenvolvimentista esgotou-se no indevidamente do país e das famílias.
No formidável acôcho das finanças públicas (44 bilhões de reais) para o pagamento do serviço da astronômica dívida interna.
No aumento do preços administrados.
Na volta da inflação.
O que constitui, naturalmente, o principal obstáculo para a reeleição da presidenta.
Nem tanto as denúncias de corrupção na Petrobrás.
Em Pernambuco, a situação não foi muito diferente.
Quem vai pagar os custos desse “desenvolvimento” são os contribuintes.
Beneficiado, como foi, por essas medidas federais, o ex-governador se comportou como um autêntico “salesman”, um vendedor dos ativos da estado de Pernambuco, através de uma farta e generosa renúncia fiscal e liberalização da legislação de proteção sócio-ambiental.
O impacto desse pletora de negócios sobre a população do estado já se faz sentir.
Como uma modalidade “espúria” de política neo-keinesiana", ela só copia um lado da moeda, sem se preocupar com os efeitos danosos sobre o meio-ambiente, as comunidades locais afetadas por esses empreendimentos, a alta do custo de vida, os inúmeros constrangimentos infligidos à população, o desrespeito aos mais comezinhos direitos dos mais pobres e a violência empregada contra a oposição.
Passada essa quadra (com o fim dos jogos da Copa do Mundo), vamos avaliar se sobreviveremos até as eleições.
Aí, teremos um quadro realista das condições sócio-econômicas e ambientais do país e do estado, para escolher que modelo de desenvolvimento queremos para nós.