Por Ana Raquel Mechlin Prado A divulgação de que a inflação oficial do Brasil, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), referente a março de 2014, foi o maior desde 2003 (0,92% a.m), fez com que o mercado financeiro projetasse uma inflação de 6,47% no ano (Pesquisa Focus, realizada pelo Banco Central), o que significaria um índice muito próximo do teto de 6,5 % a.a da meta inflacionária.

Somente a possibilidade de se atingir o teto, traz à tona o questionamento a respeito da eficácia da política monetária restritiva, fundamentada no aumento gradual da taxa básica de juros da economia pelo COPOM (Comitê de Política Monetária).

Apesar do aumento da Selic e do controle de preços administrados pelo governo (energia elétrica, combustível e transporte público, por exemplo), é preocupante que a inflação permaneça num patamar não tão confortável, o que promove a perda do poder de compra dos agentes econômicos.

Um dos vilões apontados para o aumento do IPCA é a elevação do preço dos alimentos, resultado das condições climáticas adversas, mas convém salientar que a pressão inflacionária, que não é de hoje, foi motivada também e principalmente, pelo menor controle dos gastos públicos e pelo estímulo dado pelo governo ao consumo (que aumentou, por exemplo, a demanda do setor de serviços, que é um dos principais componentes da inflação oficial) dos períodos anteriores.

Esse estímulo ao mercado interno, por sua vez, não se mostrou um modelo sustentado de crescimento econômico; pelo contrário, mostrou-se esgotado; sobretudo, porque não veio acompanhado do aumento da taxa de investimento, o que evitaria um impacto inflacionário.

Muito mais do que políticas macroeconômicas que visam ao curto prazo, é preciso que aspectos estruturais sejam alvos de atenção de medidas governamentais, como infraestrutura, redução de carga tributária, etc.; enfim, o Custo Brasil.

Entretanto, a eleição presidencial está próxima, e o governo tem um grande desafio: manter a inflação no “trilho” da meta e promover uma recuperação da economia, porém num curto espaço de tempo, o que remete à utilização de medidas paliativas, que nem sempre se mostram tão eficazes.

Ana Raquel Mechlin Prado é economista, professora da Universidade Presbiteriana Mackenzie Campinas