Por Adriano Oliveira, Doutor em Ciência Política A inocência por vezes está presente na mente dos candidatos.

Geralmente o dado estatístico serve apenas como instrumento de informação.

A interpretação dele não é realizada.

Mudança e continuidade são costumeiramente evocados por diversos analistas para sugerir o comportamento dos eleitores no futuro.

Oferta de candidatos versus demandas da população são utilizados para fornecer as razões do desempenho dos presidenciáveis nas pesquisas.

O antropólogo Clifford Geertz afirma: “Se quiséssemos verdades caseiras, deveríamos ter ficado em casa”.

Pois bem, se desejo interpretar o comportamento atual do eleitorado brasileiro preciso estar inquieto e não me deter a afirmações triviais.

Preciso sair da frente do computador e analisar com criatividade especulativa os dados ofertados por diversas pesquisas.

A última pesquisa do Datafolha (06/04/2014) revela queda na intenção de votos da presidente Dilma Rousseff e estabilidade dos porcentuais dos principais candidatos da oposição.

Este dado é relevante, pois 72% dos eleitores desejam que as ações do próximo presidente sejam diferentes do atual.

Neste caso, indago: se o desejo de mudança existe, por que os candidatos da oposição não crescem?

A tese explicativa é econômica: os candidatos oposicionistas são pouco conhecidos (oferta).

Quando ficarem, crescerão.

Tal tese deve ser considerada.

Mas se os candidatos da oposição tivessem crescido na última pesquisa do Datafolha, o argumento oferecido à opinião pública seria: Eduardo e Aécio cresceram porque os eleitores desejam mudança.

Portanto, a tese da mudança serve para tudo.

Ressalto que: 32% dos votantes consideram Lula como mais preparado para realizar as mudanças.

E Lula apoia Dilma.

E foi Lula, como bem evidenciam vários artigos acadêmicos, quem contribuiu para o sucesso eleitoral da atual presidente na eleição de 2010.

A recente pesquisa do Datafolha revelou que 36% aprovam a administração da presidente Dilma.

Isto significa, portanto, desejo de mudança?

Aparentemente sim.

Mas quem deseja mudança? 51% dos eleitores aprovam o governo Dilma no Nordeste.

No Sudeste, a aprovação é de 28%.

Portanto, os eleitores do Sudeste estão mais propensos à mudança.

Os do Nordeste, mais propensos à continuidade.

Clivagem geográfica presente.

Dado importante: 42% dos eleitores que ganham até dois salários mínimos aprovam a gestão de Dilma.

Com o aumento da renda, observa-se a queda da aprovação do governo petista.

Clivagem econômica presente.

Então, a eleição presidencial deste ano pode vir a ser caracterizada por claras clivagens geográficas e sociais.

Tais clivagens garantem o sucesso eleitoral de Dilma?

Não se pode desprezar a seguinte hipótese, a qual advém da análise do comportamento dos eleitores nas disputas presidenciais de 1998 e 2006.

No primeiro governo de FHC, eleitores obtiveram conquistas.

E em março de 1998, a taxa de aprovação do governo FHC era de 39% - Ibope.

Em março de 2006, após o escândalo do mensalão, o qual ocorreu em 2005, a aprovação de Lula era de 38% - Ibope.

Em março deste ano, o Ibope revelou que a aprovação de Dilma era de 36%.

Certamente, em março de 1998, a tese da mudança sugeriu que FHC não seria reeleito.

Ocorre o mesmo com Lula em 2006.

Tal tese sugere, neste instante, que Dilma tende a não ser reeleita.

Devemos ampliar nosso olhar analítico.

FHC e Lula recuperaram popularidade e foram reeleitos em virtude de que os eleitores consideraram o passado, ou seja, as conquistas obtidas nos respectivos governos.

Neste momento, com o objetivo de construir previsões, deve-se considerar que as clivagens econômica e geográfica podem beneficiar o sucesso eleitoral de Dilma.

Além do receio do futuro.

Ou seja: parte dos eleitores pode temer a perda das conquistas que obtiveram na era PT e temerem o futuro caso Eduardo ou Aécio vença a eleição.