Por Wagner Santos O jornalista Fernando Brito escreveu no seu blog: “Tijolaço”, ao analisar a pesquisa Datafolha que Dilma não havia perdido “votos para…ninguém”.
Uma obviedade estatística se considerarmos que, dos pontos perdidos por Dilma, praticamente nenhum deles foi transferido para seus adversários diretos: Aécio Neves e Eduardo Campos.
Ambos estagnados nos mesmos números da pesquisa anterior, com Eduardo Campos oscilando apenas um ponto para cima, dentro da margem de erro - o que se explica pelo fato da pesquisa ter sido feita logo em seguida a veiculação da propaganda e das inserções eleitorais do PSB-REDE.
Mas, dito isto, tendo a discordar de Brito.
Pois, a meu ver Dilma perdeu pontos sim, e para um adversário mais perigoso que os dois: a descrença na política e, por consequência, nos políticos.
Praticamente nenhum analista político mencionou ou observou tal aspecto, por conveniência ou ingenuidade.
O número de eleitores que dizem que vão votar branco ou nulo está na casa dos 20%, os que dizem que não sabem em quem votar ou estão indecisos - o que nas eleições pode se traduzir em abstenção - está na casa dos 10%, mais que a percentagem somada de Aécio e Eduardo.
Arrisco aqui algumas interpretações destes números e que eles podem vir a significar.
Primeiro: o sintoma de uma crise de representatividade pela qual atravessa as instituições políticas no país.
Reflexo de uma crise mais ampla, que perpassa todo o ocidente, da Europa a América.
Mas, também, como resultado do esvaziamento da política provocado pelo martelete conservador tupiniquim que envolve a mídia, os mercados, a judicialização da política, políticos profissionais, etc. que diuturnamente buscam criar no imaginário social brasileiro a ideia de que a política é suja e de que todo político é corrupto.
Segundo, este número assombroso de possíveis votos brancos, nulos e abstenções expressa, portanto, uma recusa, cada vez mais generalizada, da política, de suas instituições, e de sua forma de representatividade.
Vivemos, como diria Michel de Certeau, uma séria crise de representação e de representatividade política. É isto que significa Dilma cair seis pontos e Aécio e Eduardo permanecerem onde estão.
Pois, é cada dia mais generalizado o sentimento de que nenhum destes nos representa.
O ex-presidente Lula ainda parece ser um ponto fora da curva.
Não sabemos até quando.
Dado, a preço de hoje, os sinos midiáticos dobrarem diuturnamente em nome da criminalização da política e de todos os políticos, sem que haja nenhuma nota em contrário a ecoar no horizonte. É justamente ai onde mora o perigo.
Onde se choca o ovo da serpente.
O Nazismo, o fascismo, os totalitarismos em geral, assim como as ditaduras costumam emergir justamente neste vazio, ungidos por discursos salvacionistas, sob o esteio do retorno a ordem e a moral, da pureza contra a sujeira representada pela política e pelos políticos.
Já experimentamos isto há 50 anos atrás.
E, neste sentido, hoje, infelizmente, os exemplos se multiplicam mundo a fora.
Que o diga a Europa, em especial a França, com o retorno pungente de uma extrema-direita fascista, vencendo eleições municipais pela primeira vez na história daquele país.
Se apresentando, como sempre, como uma espécie de solução final para todos os problemas da nação.
Este começa a se constituir, também aqui, no principal adversário, não só de Dilma, mas de todos os políticos.
Assim como daqueles que ainda enxergam a política não como um fim, mas com um meio, como principal instrumento de transformação de uma sociedade.
Wagner Santos é doutorando em história pela UFPE.