Por Fernando Castilho, do JC Negócios A manhã de 1º de abril de 1964 chegou com uma forte tensão nas ruas do Recife, Jaboatão dos Guararapes e Olinda, onde as pessoas comuns viram assustadas o passar de blindados e tropas militares ocupando pontos importantes do centro da capital pernambucana, então 3ª cidade mais importante do Brasil.
Mas naquele dia aconteceram fatos que hoje, 50 anos depois, se tornaram hilários, embora naquela tensa manhã ninguém tenha achado qualquer graça: Carona Subversiva Hildebrando Metódico* era um servidor aplicado do IAPTEC cuja sede era na Avenida Guararapes.
Morador de Olinda, saia da casa com seu guarda-chuva preto e chapéu preto rigorosamente às 7 h para pegar o ônibus elétrico 13 da CTU.
No dia 1º de abril, ele repetiu sua rotina, até que um conhecido lhe ofereceu uma carona, afirmando que também ia para o Centro.
Na Avenida Cruz Cabugá, foi detido e preso com o motorista do carro acusado de envolvimento com os comunistas.
Inocente juramentado, passou uma semana repetindo a mesma frase numa cela do quartel do Exército para onde foi levado para interrogatório na Avenida Visconde de Suassuna. - Biguzinho fdp!
Embrulho explosivo Também na manhã de 1º de abril, o mecânico hidráulico Herculano da Silva* sabia da movimentação da tropas, mas precisava fazer uma entrega numa loja na Rua Nova, quando foi parado na calçada da Rua do Hospício, ao lado do muro do Hospital do Exército por uma patrulha. - O que você tem nesta caixa?
Indagou firme um jovem tenente vestido em farda de campanha.
Assustando, Herculano gaguejou depressa: - Uma d’água seu tenente.
Uma d’água!
Desconfiado com o embrulho num saco de juta, o oficial determinou: - Abre esse pacote, deparando-se com uma bomba-d’agua recém pintada e consertada. - Mas isso é uma bomba hidráulica. - É, seu tenente, mas o senhor me deixava explicar, se eu dissesse que era uma bomba? Últimos acontecimentos Porém nada se compara a episódio protagonizado pelo superintendente da Sudene Celso Furtado, que no carro oficial da autarquia entrou às 10hs na sede do então IV Exército, na Rua do Príncipe.
De seu posto o oficial do dia, Antonio Maria* reconheceu o carro preto e foi direto ao seu encontro.
Ao vê-lo, Furtado, com sua conhecida autoridade, se identificou: - Bom dia, meu nome é Celso Furtado.
Sou o superintendente… - Eu sei quem é o senhor, Doutor Celso, pode dizer. - Tenente, eu vim aqui me inteirar dos últimos acontecimentos e gostaria de conversar com o comandante do … - Doutor Celso, interrompeu o oficial, eu não sei de nada.
Mas tenho certeza que ninguém ali em cima está interessado em colocá-lo a par dos “últimos acontecimentos”.
Por favor, volte para sua Sudene.
Vai ser melhor para o senhor e melhor para mim.
Furtado aceitou o conselho.
Os nomes, com exceção de Celso Furtado, são fictícios.
FINAL