Por Sérgio Goiana, especial para o Blog de Jamildo Coordenador geral do Sindicato dos Servidores Públicos Federais de Pernambuco (Sindsep-PE) e diretor da Central Única dos Trabalhadores de Pernambuco (CUT-PE) Li em algum lugar que a motorização em massa mata as pessoas, a cidade e o meio ambiente.
As pessoas por causa dos acidentes, as cidades por causa dos engarrafamentos e o meio ambiente por causa da poluição.
Concordo plenamente com essa afirmação.
Os governos brasileiros precisam promover investimentos pesados em ações de planejamento urbano e mobilidade para romper com os gargalos das nossas metrópoles.
Ações que facilitem o deslocamento de forma mais rápida e confortável do trabalhador, entre a sua casa e local de trabalho, e do estudante para suas escolas, além de todos os moradores de uma cidade, nos momentos de lazer ou da necessidade de um serviço, como ir a um hospital.
O trabalhador brasileiro passa horas no trânsito até o local de trabalho.
Isso, além de prejudicar a sua qualidade de vida, faz com que ele chegue estafado na empresa ou indústria em que trabalha e produza muito menos do que poderia produzir em outras circunstâncias, o que acaba prejudicando diretamente a economia do País.
Os estudantes também são extremamente penalizados com os entraves no trânsito.
Muitos levam horas para chegar em suas escolas e universidades e entram cansados nas salas de aula, muitas vezes sem nenhuma disposição para prestar atenção no que está sendo debatido, o que prejudica o seu aprendizado e contribui para notas baixas e repetência.
E quando um aluno é reprovado, o poder público tem que investir mais um ano em seu ensino, gerando mais gastos.
Investir em mobilidade urbana é como investir na prevenção de doenças para, ao final, economizarmos com o atendimento médico.
Além de prejudicar a economia do País e provocar estresse em seus habitantes, a grande quantidade de veículos é responsável por altos índices de poluição, o que resulta em problemas respiratórios, entre outros.
Faz-se fundamental investimentos em transportes públicos de qualidade, além de transportes alternativos, sem esquecermos, é claro, das obras viárias.
O Recife é um bom exemplo da falta de planejamento urbano e da ausência de ações de mobilidade urbana.
A cidade foi planejada, há séculos, para acomodar seus moradores, que residiam em casas.
Com o passar do tempo, existiu um enorme crescimento vertical.
As casas deram lugar a prédios e os moradores da cidade se multiplicaram.
Com os moradores, também se multiplicou o número de veículos de passeio.
A cidade cresceu verticalmente.
Mas horizontalmente, as intervenções voltadas para o coletivo foram muito poucas, nos últimos anos.
Atualmente, vive-se no trânsito do Recife, e de seus municípios vizinhos, agruras que antes eram vivenciadas apenas em cidades como São Paulo.
Os engarrafamentos se multiplicam, os congestionamentos estão em toda a parte e horários.
Os acidentes são constantes, inclusive com mortes, como o que aconteceu na última terça-feira (25), vitimando mais um ciclista.
Faz-se mais que urgente um investimento pesado em ações para solucionar os atuais problemas.
O Governo Federal está investindo recursos em obras de mobilidade em todo o País.
Várias delas estão sendo realizadas em Pernambuco.
Mas apenas isso não basta.
O Governo do Estado tem que investir em mais corredores exclusivos e exigir, das empresas de transporte, o aumento do número de ônibus, para que haja redução em seu tempo de trajeto.
Os ônibus locais não podem mais andar super lotados, com seus passageiros imprensados.
E devem ter sistema de ar condicionado.
Além disso, todas as obras viárias que forem feitas em Recife e municípios da Região Metropolitana devem prever a implantação de ciclovias ou ciclofaixas, além de bicicletários.
A bicicleta é um dos transportes mais viáveis para as grandes metrópoles por uma série de motivos.
Em primeiro lugar, tira os carros das ruas, evitando os engarrafamentos. É um transporte não poluente, livrando o ambiente de gases tóxicos.
Além disso, a bicicleta é um dos exercícios mais completos que temos.
Pedalar contribui para a melhoria da saúde de todos.
A ciclofaixa móvel dos dias de domingo é um sucesso no Recife.
Mas ela está restrita ao lazer e turismo.
Já passa da hora de termos uma política que leve a sério esse meio de transporte como o mais benéfico para a cidade e para a sua população.
Não é a toa que grandes países europeus, como a Holanda, já investem no transporte por bicicletas há vários anos.
O Governo do Estado e prefeituras também devem investir em vias públicas, com calçadas, onde a população possa circular e passear, deslocando-se a pé para os locais de trabalho, serviços e lazer.
Com isso, nossas cidades ganharão mais vida.
Mas ainda não tratei do que considero um dos investimento mais adequados em se tratando de ação de mobilidade.
A ampliação do metrô.
Atualmente, qualquer centro urbano que queira funcionar deve investir consideravelmente em um sistema de metrô amplo e que atenda a todas as regiões.
O Metrorec possui apenas 29 estações, com linhas que somam cerca de 40 quilômetros de extensão, transportando cerca de 350 mil usuários por dia, em 25 trens.
Enquanto isso, o metrô de São Paulo, com 65,3 quilômetros, 61 estações e 900 veículos, atende a 4 milhões de passageiros por dia.
E São Paulo nem é o melhor exemplo de investimento na área.
A cidade do México possui 163 estações e 11 linhas de metrô que percorrem 202 quilômetros de extensão e atendem a uma população de mais de 8 milhões de pessoas.
Recentemente, tivemos a ampliação do nosso metrô.
Mas ela foi incipiente.
O Metrô do Recife deveria cortar toda a cidade. É certo que o metrô requer muito investimento.
Mas cabe aos governos estaduais apresentarem projetos ao Governo Federal, que está investindo R$ 50 bilhões em linhas de metrô em quase todas as capitais brasileiras.
Recentemente, a presidente Dilma Rouseff anunciou a liberação de R$ 8,5 bilhões em investimentos de mobilidade urbana no Ceará, afirmando que dinheiro não seria o maior problema brasileiro para investimento na área.
Na verdade, o problema do Brasil é, muitas vezes, falta de vontade política e capacidade de gestão para elaboração de bons projetos.