Por Fernando Castilho, especial para o Blog de Jamildo Parafraseando Luiz a Gonzaga sobre Zé Dantas (“puro, tão puro que quando a gente chegava perto dele sentia cheiro de bode”), Fernando Spenser gostava tanto de cinema, mas tanto, que quando a gente chegava perto dele sentia cheiro de celuloide.

Spencer era uma dessas pessoas que, quando a gente conversava, saía mais rico em termos de informação sobre o que a publicidade chama de a Sétima Arte.

Eu, como uma geração inteira de jornalistas, comecei a ter uma percepção melhor sobre o cinema (como elemento de reflexão para nosso trabalho no jornalismo impresso) a partir das crônicas de Fernando Spencer no Diario de Pernambuco.

E podemos afirmar que uma boa parte dos cineastas brasileiros da década de 70, 80 e 90 formou conceitos sobre cinema a partir do que ele, com sua simplicidade, escrevia.

Ao lado de Celso Marconi, no Jornal do Commercio, Fernando Spencer escrevia induzindo a gente a ir ao cinema.

Dava as informações básicas para você formar opinião.

Raramente você lia nas suas crônicas um texto destrutivo daqueles que poderiam fazer você perder a oportunidade de ver um filme diferente.

Você lia Spencer e queria ir ao cinema conferir.

Eu já era rato de cinema, em Areias, quando conheci Spencer no Diario de Pernambuco, apresentado por Felix Filho, que também era rato de cinema em Casa Amarela, os dois novatos no jornalismo ainda como estagiários.

Foi Spencer quem registrou, documentou e estimulou a formação de dezenas de jovens a fazer o “Movimento Super 8” aqui em Pernambuco.

Era com Spencer entusiasmadíssimo com a perspectiva que a Kodak dava para qualquer pessoa se aventurar “com uma Câmera na mão e ideia na cabeça”, que o pessoal ia pedir informações e dicas técnicas de “como fazer”.

Porque o “Velho Spencer” sabia tudo de plano, contraplano e outras coisas que a gente nem via.

Eu até cheguei a por uma câmera na mão, ao lado de Felix Filho, que fez vários Super 8, um deles juntamente com Leticia Lins, sobre Gregório Bezerra e Gilberto Freyre (Giba e Gringa, 1979), que nasceram no mesmo dia 15 de março.

Felizmente, logo vi que não era minha praia o cinema, e, como todos puderam ver, o cinema não perdeu absolutamente nada.

Mas quem nos ajudou nessa aventura foi Fernando Spencer.

Ela sabia tudo de jornalismo de cinema.

O que se tinha sido escrito e filmado.

Tinha a referência histórica e a análise profissional.

E, quando se meteu a fazer cinema, fez com a mesma paixão e ousadia que primeiro brigava para ter a câmera, depois os rolos de filme, já que patrocínio era uma coisa que quando tinha serviria para pagar a montagem.

Fernando Spencer tinha uma vantagem sobre o jornalismo de cinema atual.

Ele escrevia da perspectiva que este ou aquele filme provocou na sociedade na época do lançamento, pois, para ele, o cinema como a música induzia movimentos sociais.

Não teorizava nem escrevia academismos que as vezes destrói a vontade do espectador de ir ao cinema.

Spencer sempre escreveu sobre cinema de forma que você sentisse vontade de ver o filme.

Talvez porque o “Velho Spencer” tenha feito tomando como sentido de sua vida a velha frase da publicidade da rede Luiz Severiano Ribeiro (Cinema é a maior diversão).

Porque, para Fernando Spencer, que nos deixou neste 17 de março, o cinema era a maior diversão.