Reinaldo Azevedo, em seu blog Parece que Eduardo Campos, governador de Pernambuco e pré-candidato do PSB à Presidência, resolveu mesmo bater de frente com a presidente Dilma Rousseff.

Neste domingo, voltou a criticar duramente a petista, em viagem ao interior de Pernambuco.

Durante um ato político em Surubim, afirmou que ela distribui cargos entre aliados como quem divide bananas e laranjas e disse ser preciso evitar que o país derreta na inflação e no populismo.

A estratégia de Campos, nessa pré-campanha eleitoral é, sim eficaz.

Até a página 13.

A partir da 14, não se sustenta e, no limite, joga água no moinho do lulismo, do petismo e do continuísmo.

Se, por um lado, ele representa uma novidade em relação a pleitos passados porque é alguém que se descolou na nave-mãe, por outro lado, caso fosse cem por cento eficaz na sua pregação, acabaria trazendo Lula de volta.

Com acerto, o peessebista percebeu que existe no ar certa sensação de enfaro, de saco cheio.

São poucos os que acham o governo muito ruim.

Mas não são tantos os que o consideram muito bom.

Tudo vai ficando ali, pela linha da mediocridade.

Desta vez, o clima não é hostil a mudanças.

Quando o pré-candidato do PSB afirma que ninguém aguenta outros quatro anos de Dilma, vocaliza uma percepção muito viva em alguns setores da sociedade, especialmente os ligados à economia real, à área produtiva. É, sem dúvida, um bom achado para essa fase inicial.

Não mais do que isso.

A crítica, progressivamente mais dura e aberta, que o governador faz a Dilma convive, não obstante, com elogios rasgados ao governo Lula, de quem foi aliado incondicional e ministro.

Em 2010, ele dinamitou as pretensões presidenciais de seu então aliado Ciro Gomes em favor da candidata do PT, essa tal “que ninguém aguenta mais”.

Hoje, curiosamente, os irmãos Gomes, Cid e Ciro, estão fechados incondicionalmente com a presidente, e Campos foi para a oposição.

E cabe, então, a pergunta: a gestão Lula foi mesmo tão boa como diz Campos?

As dificuldades essenciais do governo Dilma foram meticulosamente construídas, organizadas e planejadas por seu antecessor.

A presidente pode, sim, tê-las extremado em razão de traços de comportamento e de temperamento e de incompetência específica, mas nem inventou nada nem destruiu nada.

O que mudou substancialmente foi a conjuntura internacional.

Onde estava Campos quando Lula, com uma das mãos, demonizava as privatizações e, com a outra, ia abrindo o caixa para alguns potentados do capitalismo sem risco?

Na boca de Campos, Dilma surge como aquela que dilapidou uma herança bendita.

Nessa perspectiva, o pré-candidato do PSB se oferece como o nome que reúne as melhores condições para ser o verdadeiro continuador de Lula.

Ao se negar a enfrentar o lulo-petismo e se colocar como seu caudatário e herdeiro competente, Campos intenta uma operação que me parece impossível.

Basta que Lula venha a público e diga: “Ok, o Eduardo diz que fiz um grande governo.

Quero dizer que minha continuadora é Dilma” E poderia ser ainda pior: se o pré-candidato do PSB conseguisse destroçar a reputação de Dilma a ponto de inviabilizá-la como candidata, Lula e parte substancial do PT dariam graças a Deus: aí seria ele o candidato!

Não vejo como Campos possa ser lulista e oposicionista ao mesmo tempo. É evidente que os petistas prefeririam que Campos não estivesse na disputa, o que contribui para empurrar a eleição para o segundo turno.

Mas não vejo muitas virtudes nesse discurso.

Até porque inexiste, como todo mundo sabe, a transferência automática de votos.

O eleitorado, no fim das contas, vota em quem bem entender.

E Campos vai para a urna com a informação de que Lula fez um governo impecável.

Como transferir, depois, essa turma para o lado oposicionista caso ele não esteja, como não deve estar, como o adversário final de Dilma?