Por Elio Gaspari O governo deve pagar para ver a rebeldia do blocão pós-carnavalesco do deputado Eduardo Cunha Ganha uma viagem a Roma, com direito a hotel “padrão Dilma”, quem souber apontar uma só politica pública associada ao descontentamento do PMDB com o atual governo, os passados e os futuros.
Se o deputado Eduardo Cunha, líder da bancada do partido e porta-voz da insatisfação, estivesse discutindo transportes públicos, muito bem.
Difícil que o faça, a menos que pretenda começar pela promiscuidade existente nas relações dos governos do Rio de Janeiro com os concessionários.
Ele também poderia estar descontente com a inépcia dos ministérios da Educação ou da Saúde, mas disso seu PMDB não se queixa.
A bandeira mais visível da oposição ajudada pelos rebeldes foi a proposta de instalação de uma comissão externa para investigar a Petrobras.
Em tese, toda investigação é boa.
Na prática, esse instrumento transformou-se num fator de desmoralização do Congresso.
A Comissão Parlamentar de Inquérito que investigou as atividades do doutor Carlinhos Cachoeira serviu apenas para mostrar ao país a eficácia da blindagem dos governadores, prefeitos e empresários que com ele tinham negócios.
Quem protegeu os maganos foi o PMDB, com a ajuda do governo.
Indo-se mais longe, à CPI do Banestado, verifica-se que em vez de achar as malfeitorias da banca, ela se contentou em descobrir novos caminhos para ter boas conversas com banqueiros.
Em 2009 o Congresso criou uma CPI para investigar a Petrobras.
Começaram falando na investigação de contratos bilionários de empreiteiras e acabaram discutindo patrocínios culturais que envolviam caraminguás do comissariado cultural. À época, um empresário que conhece o mercado advertia: “Numa empresa desse tamanho, denúncia com valor inferior a US$ 100 milhões é disfarce de quem quer discutir o que não tem importância”.
A qualquer hora, em qualquer setor, algo de errado pode estar acontecendo na Petrobras.
Isso deriva do seu tamanho.
Quando ela se mete em desastres, como o da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, a oposição faz de conta que não vê.
A CPI de 2009 não fez bem à empresa, apenas mostrou aos grandes fornecedores o que deviam fazer para ficar fora dos holofotes parlamentares.
Admita-se que o doutor Eduardo Cunha queira conhecer melhor as contas da Petrobras.
Para ficar no mundo dos trocados, poderá achar um expediente, de 2012, no qual a área de gás e energia da empresa queria fazer sua festa de fim de ano no Copacabana Palace, fechando o Golden Room e o Salão Nobre para 230 convidados.
A boca-livre custaria em torno de R$ 1.500 por pessoa.
A maneira como a festa estava sendo contratada tinha fumaça.
Exposto, o negócio foi cancelado.
Admita-se que tivesse sido realizado, ou ainda que tivesse outra dimensão.
Em vez de fechar dois salões, a Petrobras fecharia todos, para mil convidados.
Haveria tantas flores e champanhe que um ás da noite carioca seria capaz de comparar o seu luxo ao do casamento da filha de Carmen Mayrink Veiga com o neto do magnata Augusto Trajano de Azevedo Antunes.
Entre os convidados estariam ilustres parlamentares do PMDB.
Mesmo tendo caixa para uma festa dessas, a Petrobras deveria ficar constrangida e nada melhor que uma investigação para que se soubessem as razões que a levaram a tal exibicionismo.
Essa festa aconteceu, em 2011, mas não é da conta de ninguém.
Foi um evento privado, festa familiar do deputado Eduardo Cunha.