Por Michel Zaidan Filho Houve uma mudança da cobertura jornalistica do carnaval de 2014. É possível dizer que houve um maior destaque dos carnavais do Rio e do Recife, e sobretudo dos carnavais de rua, dos blocos de sujos, de troças, cordões etc.

Fato auspicioso, uma vez que o “maior espetáculo da terra” tornou-se um fabuloso negócio de empresas, veiculos de comunicação e autoridades públicas municipais, estaduais e federais.

O renascimento da folia espontanea dos bairros e dos foliões anonimos é um sinal positivo de que não só de glamour e purpurina (e dos holofotes) vive o carnaval brasileiro.

Existe sempre o risco do globalismo localizado querer tomar e dá conta da festa momesca.

Apesar da pretensão dos baianos e dos cariocas de roubarem a cena carnavalesca, a diversidade regional e cultural da folia tem enriquecido o espetáculo e tornado mais plural o cortejo carnavalesco.O carnaval de rua retoma o espírito original da “inversão”, da crítica, da irreverência popular em relação aos poderosos e ricos.

O mesmo não se pode dizer da relação dos políticos com o carnaval.

Eles continuam com a condenável tendência (anticarnavalesca) de tirar proveitos e dividendos da folia.

A festa popular - como o futebol e a religião - faz parte daquilo que os estudiosos chamam de “mundo da vida” ou da “cotidianeidade”.

Esta é uma esfera social contraposta ao “sistema”, ao mundo do dinheiro e do poder. É aí onde as pessoas respiram, se dão o luxo de serem mais espotâneas, naturais, de dizerem o que pensam ou como gostariam de ser (o mundo do imaginário social).

Tal como se poderia ver o carnaval como uma autêntica válvula de escape (diante da opressão cotidiana), ele também pode facilmente cumprir (e cumpre) o papel de um eficiente controle social.

Uma forma de insatisfação administrada, com prazo e data para acabar ou se camuflar. É exatamente como forma de controle social, que as nossas elites pensam o carnaval.

Acham que podem manipular a insatisfação das pessoas, patrocinando a folia.

Como se fôsse possível vestir a camisa de seu partido ou de seu governo nos foliões e dizer que o sucesso da folia é o seu sucesso, é o sucesso de suas gestões.

Como se dissessem: “Obrigado, foliões.

Voces corresponderam na avenida ao esforço hérculeo e desmedido de governar para a felicidade de voces”.

Coitados!

Mas iludidos do que os foliões, estão eles pensam que a alegria, o sorriso, a desconcentração, o bom humor é a senha de entrada no panteão dos deuses eleitorais de 2014.

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