Por Jairo Cabral Diretor da Ceroula de Olinda No início do século passado o carnaval de Pernambuco, o melhor do mundo, começou a se estruturar.
Cem anos depois, em que pese as mudanças ocorridas, suas principais características continuam preservadas.
São os blocos líricos, as troças e clubes de frevo, os maracatus de baque solto e de baque virado, as tribos de caboclinhos, os ursos e bois, além da riqueza musical peculiar, que lhe confere identidade própria e o diferencia de outras manifestações carnavalescas espalhadas pelo Brasil.
A partir de 1920 e durante toda a década, começaram a surgir os primeiros blocos do carnaval de Pernambuco.
No bairro da Torre e adjacências, apareceram o Apôis Fum, em 1925, tendo à frente as lendárias figuras de Felinto de Moraes e Fenelon Moreira, imortalizados por Nelson Ferreira em sua evocação número 1, sucesso nacional no carnaval de 1957.
Nesse mesmo período surgiram o bloco Um Dia Só, Bobos em Folia, Bebé, Camelo de Ouro e Pavão Dourado.
No bairro de São José, surgiram o Bloco das Flores, de Pedro Salgado, também imortalizado na evocação número 1, de Nelson Ferreira, de cujas hostes fazia parte um dos maiores compositores de marcha de bloco, hoje frevo de bloco, Raul Corumila de Moraes. É desse período ainda, o Bloco Concórdia, fundado por Nelson Ferreira, para o qual compôs a canção borboleta não é ave, grande sucesso, inclusive nos dias atuais.
Em 1932 surge o Batutas de São José, como sucedâneo do Batutas da Boa Vista.
A origem dos blocos está associada a ideia de produzir um carnaval de rua civilizado, nos moldes europeus, estimulado pela pequena burguesia recifense, que não tinha acesso ao carnaval fechado da elite, realizado nos salões dos clubes sociais tradicionais, como o Clube Internacional do Recife.
A música de cunho reminiscente, sustentada por uma orquestra de pau e corda, de andamento moderado, cantada por um coro majoritariamente feminino, apropriada às evoluções dos seus cordões , muito semelhantes às jornadas de pastoril.
Os blocos se constituíam de famílias inteiras, noivos e noivas, casais de namorados e amigos próximos.
Desfilavam protegidos por uma corda grossa, para não permitir a entrada em seus cordões do povão e de pessoas estranhas ao seu convívio social.
Nesse sentido significou um contraponto aos pedestres, de origem muito popular e quase sempre oriundos de categorias profissionais.
Vassourinhas e Pás são dois bons exemplos.
Os clubes pedestres e as troças, protagonizavam ferrenhas disputas, muitas vezes violentas, em decorrência da enorme rivalidade existente entre eles.
Com o passar do tempo os blocos se popularizaram e deixaram de ser expressão exclusiva da pequena burguesia.
Atingiram o auge nos anos de 1960.
No entanto, com o advento da ditadura militar, que primava pelo controle das manifestações massa, o carnaval de rua entrou em declínio e passou a acontecer, mais fortemente, nos clubes sociais, contribuindo assim para o desaparecimento de inúmeras agremiações.
Na música Valores do Passado, o compositor Edgard Moraes, homenageia vinte e quatro blocos extintos e sonha com a possibilidade do surgimento de um bloco, que resgatasse a beleza e i lirismo dos carnavais de outrora.
A partir dessa ideia, um grupo de artistas, intelectuais e músicos, fundaram em 01 de dezembro de 1973, o Bloco da Saudade, que desfilou pela primeira vez em 1974.
Ao completar quarenta anos, o Bloco da Saudade é merecedor de todas as honrarias.
Desempenhou e continua a desempenhar papel de relevo no resgate e na difusão da cultura carnavalesca pernambucana.