Por Noelia Brito*, especial para o Blog de Jamildo Chegamos ao final do mês de fevereiro, véspera das folias de Momo e os pré-candidatos aos cargos majoritários começam a se colocar visíveis para o eleitorado e para a mídia.
Alguns já eram dados como certos, outros dependiam de alguns ajustes e definições.
Outros, no futuro, ainda ficarão pelo caminho, a depender dos interesses maiores de seus partidos, em acordos alinhavados pelas cúpulas que sempre decidem, de cima, o que melhor lhes convém.
Na disputa nacional, até agora, o que temos como previsto é a candidatura à reeleição da presidenta Dilma, e ainda assim com uma certa resistência de uma parcela de petistas da turma do ABC paulista, que até hoje não a engoliu pela diminuição de sua influência no poder central, na distribuição de cargos e no domínio dos contratos e obras do governo e que não cansa de entoar o “volta Lula”.
O discurso do “volta Lula”, aliás, é ecoado e superestimado pela própria oposição que vê nele, uma forma de desestabilização do governo Dilma.
Diga-se, ainda, que é bem cômodo para oposicionistas como Eduardo Campos, por exemplo, fazer críticas ao governo Dilma, do qual fez parte até poucos meses e do qual fazia calorosa defesa, antes de se bandear para a oposição, com quem hoje está envolvido até a medula, mas poupando Lula, pois com isso agrada, por exemplo, os petistas do ABC e empreiteiros como Emílio Odebrecht, que chegou a defender a chapa Lula-Eduardo como a chapa de seus sonhos.
Além da resistência interna do PT do ABC, Dilma tem encontrado resistência do aliado PMDB, seja por causa da formação das alianças em Estados como o Rio de Janeiro e o Ceará, seja por causa da eterna e insaciável gula do PMDB por cargos, o que não deve, porém, ser suficiente para fazer o PMDB migrar de uma vice com enormes possibilidades de vitória, quiçá, até no primeiro turno, pelo menos de acordo com as recentes pesquisas, para a candidatura de um Aécio Neves que, muito provavelmente, deve ficar atrás da própria candidatura de Eduardo Campos, ao final do processo eleitoral vindouro.
A candidatura de Aécio Neves, como era de se esperar, já é alvo do chamado “fogo amigo” serrista.
Em recente palestra para consultores financeiros, José Serra, preterido pelo PSDB na disputa para a presidência da República, contradisse claramente o discurso terrorista do correligionário, esboçado em artigo publicado pela Folha de São Paulo, no começo do ano, onde alegava que o país vivia, sob a batuta de Dilma, “um descontrole fiscal generalizado”.
Segundo Serra, o Brasil não vive nenhuma situação econômica “calamitosa” nem “descontrole inflacionário e fiscal”: “— Eu não vejo que o quadro econômico seja tão calamitoso quanto se divulga.
Não significa que estamos bem, mas o que não vejo é que seja tão calamitoso”.
Aécio, pelo menos até agora, sequer conseguiu agregar um vice de peso à sua candidatura e parece aguardar a adesão de apoios que acabaram esnobados por Eduardo, para não desgostar sua própria vice, Marina Silva, como é o caso, por exemplo do DEM, que chegou a ensaiar o lançamento da candidatura de Ronaldo Caiado, o que, até o momento não se confirmou.
Eduardo Campos, por sua vez, após resolver o imbróglio local da escolha de seu sucessor ao governo de Pernambuco estará mais livre para trabalhar as costuras das alianças necessárias à construção dos palanques nacionais que deverão leva-lo, junto com a vice, Marina Silva, senão ao segundo turno, pelo menos ao segundo lugar na eleição presidencial, atingindo, portanto, seu objetivo que é se cacifar para 2018.
Mas há outros elementos nessa disputa que não podem ser desprezados: a candidatura de extrema direita da ex-diretora da ANAC, Denise Abreu, pelo PEN e a candidatura de Randolfe Rodrigues, numa eventual Frente de Esquerda do PSOL, PSTU e PCB, que podem, sim, vir a forçar um eventual segundo turno de resultado, este sim, imprevisível.
Denise Abreu tem se posicionado como representante do pensamento conservador, da extrema direita, que tem um certo nicho no país e que pode tirar votos de Aécio, favorecendo, assim, o próprio Eduardo em sua escalado ao segundo turno.
Por outro lado, a Frente de Esquerda, que está dependendo de um acerto das coligações proporcionais no Rio de Janeiro, entre PSOL e PSTU, que garanta a eleição do presidente deste último, naquele estado, Cyro Garcia, a uma cadeira no parlamento, também poderia agregar muitos votos que hoje engrossam a porcentagem dos votos inválidos e tantos outros dos decepcionados com o PT, contribuindo ainda mais para um segundo turno entre Dilma e Eduardo Campos.
Não é à toa que o próprio Randolfe, em entrevista a emissoras de rádio pernambucanas, chegou a revelar sua certeza de que, na intimidade da urna, a vice de Eduardo, Marina Silva, votaria nele.
As eleições deste ano prometem fortes emoções.
Quem tiver coração fraco que comece a prepará-lo. * Noelia Brito é advogada e procuradora do Município