Por Michel Zaidan Filho É do filósofo judeu-alemão Walter Benjamin a polêmica frase de quase não há objetivos sensatos na Política, entendida esta como reino da racionalidade estratégica ou instrumental.

Naturalmente, referia-se ele à tradição maquiavelicamente da Política, enquanto mero meio de conquistar o Estado e mantê-lo, a qualquer custo, indiferentemente quanto aos meios utilizados para isso.

Vem daí a infeliz constatação de que “os fins justificam os meios” ou a conhecida ética das consequências ou ainda, as chamadas “razões de Estado”.

Embora não seja filosoficamente anarquista ou neo-anarquista, tenho a obrigação moral e política de dizer que o anarquismo e o neo-anarquismo contemporâneos, que estão presentes nos atuais movimentos sociais, não tem nada a ver com práticas blanquistas ou carbonárias e, muito menos, com ações terroristas, seja lá o que se entenda por isso.

A recusa dos militantes libertários à Política institucional, representativa ou partidária decorre de uma compreensão filosófica que vê a natureza humana como intrinsecamente boa e o Estado como uma perversão social ,independente da forma institucional que assuma (república, monarquia, democracia, ditadura etc.).

Para os anarquistas, o problema está no designado “princípio de autoridade” em si mesmo, numa sociedade que chame a si própria de libertária ou socialista.

Dai a preferência pela ação direta ou a cultura mobilizatória, sem a intermediação político-partidária.

Os militantes anarquistas têm uma desconfiança intrínseca da Política institucionalizada, entendida muitas vezes como o supra sumo da alienação humana.

O melhor governo é o autogoverno e a liberdade política é indelegável.

Por isso nada mais estranho que atribuir a gênese dos movimentos sociais à ação de partidos políticos ou a políticos dotados de motivações escusas (carbonárias, blanquistas ou terroristas).

Estes movimentos são totalmente avessos à participação de partidos ou políticos partidários.

A tentativa infame de se atribuir a esses o protagonismo dos militantes sociais só pode ser explicado à luz de uma teoria conspirativa muito ao gosto da polícia e dos governos autoritários que não toleram nenhum movimento de contestação ou de crítica.

Para estes últimos, qualquer tentativa de oposição é golpe, é conspiração ou ação terrorista.

Como dizia Rosa Luxemburgo, a liberdade só faz sentido para quem pensa diferente de nós, que discorda do nosso pensamento.

Onde não há contraditório ou dissenso, a liberdade é inútil, pois todos pensam igualmente.

Para os ditadores líderes autoritários, a liberdade é um mal-entendido ou é o direito do cidadão dizer “amém”, “sim, senhor”.

Esta palavra não existe no dicionário político dessa estirpe de políticos.

A liberdade é um direito universal, não está submetido a nenhuma condicionalidade.

Muito menos a vontade (e ao entendimento) do inspetor de quarteirão da esquina.

Quando se começa a adjetivar a liberdade ou a submete-la a condições ou a concordância autoridade policial, ela deixa de existir.

Assim , não deixa de ser surpreendente que um governo (do PT) e uma imprensa que foi vítima, a pouco tempo, de tantas violências e arbítrio de uma ditadura militar, faça côro com aqueles que querem sim proibir a livre manifestação da crítica dos movimentos sociais.

Por acaso, não sabem por experiência própria que o fim das liberdades públicas começa sempre pelo direito do livre pensamento de algum setor da sociedade?

Ou esses desavisados acham que contarão com o beneplácito ou um salvo-conduto dos futuros liberticidas deste país?