As manifestações e as eleições Por Adriano Oliveira, especial para o Blog de Jamildo A interpretação equivocada dos fenômenos sociais conduz a compreensão errada da conjuntura.

Quando atores políticos e estrategistas cometem erros interpretativos tendem a construir estratégias eleitorais ineficazes.

As manifestações de junho de 2013 foram submetidas a diversas interpretações equivocadas.

Em razão disto, o que fora previsto logo após as manifestações, não veio a se consolidar em dezembro de 2013.

Após as manifestações de junho, os interpretes apressados frisaram que a presidente Dilma Rousseff não recuperaria a sua popularidade.

Primeiro equivoco.

Ela recuperou parte da sua aprovação em dezembro de 2013.

Os apressados também salientaram que as manifestações provocaram a queda da popularidade da presidente da República.

Fato.

Mas não frisaram, assim como bem demonstraram várias pesquisas, que gestores diversos tiveram queda da popularidade.

Segundo equivoco.

E o terceiro equivoco foi não fazer a pergunta vital: Por que as classes C e D não participaram majoritariamente das manifestações?

As manifestações de junho de 2013 foram fenômenos fortemente segmentados – conforme sugerem as pesquisas.

Neste caso, indivíduos pertencentes às classes A e B, na faixa etária de 18 a 35 e com nível superior, participaram majoritariamente das manifestações.

Por outro lado, esses eventos foram fenômenos que conquistaram majoritário apoio da população brasileira.

O vetor causal desses eventos foi o aumento da passagem de ônibus ocorrido em São Paulo.

Após várias manifestações, ocorreu o “efeito manada”, ou seja, outras pessoas de várias capitais organizaram manifestações, as quais tiveram pautas diversas, já que quando elas ocorreram, o aumento da tarifa de ônibus tinha sido revogado em várias cidades.

As ações violentas praticadas por manifestantes em junho de 2013 foram reprovadas pela população.

A opinião pública apoiou as manifestações, mas não chancelou atos de violência.

No final de junho de 2013, pesquisa do Datafolha realizada na cidade de São Paulo revelou que 89% dos paulistanos eram favoráveis às manifestações.

Em setembro, o porcentual foi de 74% e em outubro, 66% apoiavam esses protestos.

O Datafolha revelou também que em outubro de 2013, 9 entre cada 10 paulistanos entrevistados eram contrários às manifestações violentas.

O Instituto de Pesquisa Mauricio de Nassau (IPMN) em pesquisa realizada em novembro de 2013 revelou que: 1) 43,3% dos recifenses concordam com as novas manifestações ocorridas no segundo semestre de 2013; 2) 82,7% dos recifenses não pretendem participar de manifestações em 2014; 3) e 92,2% reprovam atos de violência nesses protestos.

Os argumentos e dados apresentados sugerem que os candidatos a presidente da República devem ficar atentos às consequências eleitorais das possíveis manifestações que irão ocorrer em 2014.

Tenho a hipótese de que elas irão acontecer, mas esvaziadas e com reduzido apoio popular, em razão dos atos de violência.

E outra hipótese: a morte do cinegrafista Santiago Dantas aumentará a desaprovação da opinião pública para com elas.

Portanto, interpretar adequadamente o que acontece na conjuntura e criar cenários são caminhos adequados para a construção de estratégias eleitorais eficazes.

Quem é – Doutor em Ciência Política. 38 anos.

Professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

Sócio da Contexto Estratégia.

Autor de variados artigos e livros sobre o comportamento do eleitor brasileiro.

Dentre os quais: Eleições e pesquisas eleitorais - Desvendando a Caixa-Preta, Editora Juruá, 2012.