Por Paulo Rubem, deputado federal (PDT-PE) Cortes no orçamento.

Adeus às emendas parlamentares, às nomeações e novos concursos.

Essas foram algumas das manchetes dos últimos meses nos jornais do País.

Tais medidas, atribuídas a áreas da Fazenda e Planejamento, visam segurar despesas e conter a inércia inflacionária.

Além disso, a taxa básica de juros continua aumentando, sob aplausos dos interesses do mercado financeiro.

Nos últimos 15 anos de vigência do regime de metas de inflação, a engrenagem acima transformou-se num pensamento único.

Frente ao mesmo, de nada servem as dissertações, teses, artigos e opiniões de nossos economistas, mestres e doutores, sobre medidas alternativas anti- inflacionárias.

Em 2006, no livro “Emprego, Juros e Câmbio”, João Sicsu revelou que diversas nações superaram as ameaças inflacionárias sem recorrer ao regime de metas de inflação e a elevações das taxas de juros para conter a demanda interna.

André Modenesi, Professor das Faculdades Ibmec e pesquisador do IPEA afirmou, em “Convenção e Rigidez na política monetária: uma estimativa da função de reação do Banco Central do Brasil entre 2000 e 2007”, que a formação da taxa Selic é pautada por uma convenção pró-conservadorismo na condução da política monetária.

Em outro trabalho, como co-autor, levado em 2010 ao XXXVIII Encontro da Associação Nacional dos Centros de Pós-Graduação em Economia, Modenesi indica que a apreciação do Real frente ao dólar deriva principalmente da manutenção de elevadas taxas de juros, ferramenta mór do regime de metas de inflação.

Em 2011, Carlos Lessa, em artigo publicado no Valor, lembrou que “o capital cigano impacta diretamente os preços dos ativos financeiros e reais”, destacando as perdas de mercado doméstico por 45% das empresas brasileiras e de 67% das indústrias exportadoras, por clientes no exterior, expostas à concorrência com os chineses, frente ao binômio “Real forte - Dólar barato”.

Franklyn Serrano, Professor do Instituto de Economia da UFRJ, no texto “Juros, Câmbio e o sistema de metas de inflação no Brasil” (Revista de Economia Política, vol.30, No.01, jan/março de 2010), destacou que o regime atual de juros altos e câmbio baixo tem grandes custos: “Os juros reais elevados aumentam a carga de juros da dívida pública, estabelecem um alto custo de oportunidade para o capital (…), desestimulam o investimento produtivo induzido e o crescimento do próprio produto potencial.

O câmbio real cada vez mais valorizado desprotege a indústria local contra as importações”.

Afirmo assim que, pior do que a inércia da inflação, é a preguiçosa inércia cognitiva que desde 1999 manuseia a elevação dos juros, sob constante pressão dos detentores dos capitais, com elevados custos fiscais e cambiais para o Tesouro Nacional, sem observar de forma clara as consequências apontadas por Sicsú, Modenesi, Lessa e o próprio Serrano.

Por isso, recentemente, Antonio Correa de Lacerda, Doutor em Economia pela Unicamp e Professor da PUC-SP, frente ao custo das decisões econômicas, reivindicou mais debates com as universidades e segmentos da sociedade, frente ao elevado ônus de manutenção das reservas cambiais pelo Banco Central.

O Brasil precisa de novos caminhos, com autonomia frente ao mercado, ouvindo sua inteligência econômica fora dos círculos oficiais.

Os custos da inércia cognitiva anti-inflacionária são altíssimos, sejam fiscais, cambiais ou industriais, beirando a irresponsabilidade contra o futuro da nação.