Por Roberto Numeriano*, especial para o Blog A Prefeitura da Cidade do Recife está cobrando R$ 107 às agremiações carnavalescas que pretendem desfilar pelas ruas dos bairros recifenses.
Mediante ofício à Fundarpe, o dirigente da troça, do bloco etc, deve fazer o pedido, pagar a taxa de inscrição e informar o itinerário.
Ou seja, a gestão modernosa da PCR, sob a tutela técnica de Geraldo Julio e certamente a supervisão do consultor para eventos socioculturais, Eduardo Campos, instituíram um pedágio para o desfile carnavalesco nos espaços públicos.
Esta semana, em Nazaré da Mata, a Polícia Militar entrou de sola nos ensaios de Maracatus rurais de baque solto que, segundo uma tradição centenária, fazem ajustes nos toques e bailados durante a madrugada.
Impediu os ensaios dos integrantes, e estamos conversados.
Me recordou, o ato, aquelas batidas policiais dos nos 70 para trás, nos terreiros de candomblé das periferias recifenses, quando prendiam os membros dos centros e levavam consigo as imagens de culto.
No Recife também teremos o “toque de recolher à Damásio”, para os festejos de momo.
O que está acontecendo, não sei.
Posso intuir algumas respostas.
Imagino que o toque de recolher queira prevenir a criminalidade, sempre mais alta desde as prévias até a Quarta-Feira de Cinzas.
Acredito ser necessária nos polos de bairros periféricos (afinal, é um polo que concentra tudo num espaço), mas não para os polos centrais onde se concentra a massa dos foliões que fazem a diferença do nosso Carnaval popular.
Para estes, reforce-se o policiamento ostensivo, preventivo e repressivo, para garantir a máxima segurança possível dos foliões.
Imagino ainda que a causa dessa estranha decisão se relacione com a campanha presidencial do, na prática, ex-governador de Pernambuco.
Já pensou o guia eleitoral a alardear que a violência caiu tantos por cento no Carnaval do Pacto pela Vida?
Não quero acreditar nisso, na verdade.
Acho de uma demagogia sem par, uma manipulação insana de quem está obcecado pelos fins, achando que tudo justifica os meios.
Do mesmo modo, como cidadão recifense, exijo da PCR uma explicação sobre a cobrança desse “pedágio da alegria”.
Seja qual for a causa, exijo que seja extinto.
Já nos basta a cobrança extorsiva, abusiva e criminosa para estacionar nos shoppings do Recife. (Aliás, qual é a “mágica” dessas empresas para, mesmo negociando sob licença do poder público, obrigar-nos a pagar para estacionar e fazer compra nos seus estabelecimentos, mesmo sendo essa concessão de negociar um direito público que não deixa de pertencer ao recifense como cidadão que legitima esse poder mediante o seu voto?).
E o pior de tudo é que ainda nos impõe uma cláusula de insegurança: você é extorquido e lê nas placas dessas minas de ouro um aviso dizendo que o operador do estacionamento e o shopping não se responsabilizam pelo seu veículo, pertences no interior etc.
Menos mal, no meu caso é muito raro ir a shoppings e me sentir lesado.
Ficam as perguntas no ar.
Para todos.
Nós próprios.
A PCR.
O governo do Estado.
O TJPE (que até foi acionado nos casos da cobrança pelo estacionamento, mas decidiu pro-poder econômico).
Quem é que vai pagar ou deixar de pagar por tudo isso? *Roberto Numeriano é jornalista, professor, cientista político e militante do PSOL/PE.