Henrique Barbosa, especial para o Blog de jamildo Fundado em 1980, o Partido dos Trabalhadores demorou exatos 20 anos para sentar na cadeira de prefeito do Recife.
Nas eleições municipais de 2000, João Paulo conseguiu em segundo turno entrar para a história como o primeiro operário a sentar a entrar no palácio com 382 mil e 988 votos.
Na gestão, nomeou o secretariado e criou o primeiro núcleo-duro da gestão petista.
Ai, o PT começou a dar os primeiros sinais de sangramento.
Vamos comparar a um exame de filariose.
Pouquíssimo sangue.
Enquanto os conflitos estavam escondidos, tudo bem.
Ai, veio 2002.
João Paulo como era bem avaliado pelos institutos de pesquisa se achou no direito de disputar o governo de Pernambuco contra Jarbas Vasconcelos.
Um outro grupo petista capitaneado pelo atual senador Humberto Costa bateu o pé e se colocou como candidato.Ganhou a condição de candidato, mas perdeu a eleição.
Com 34,1%, ficou em segundo lugar.
Como prêmio de consolação ganhou o Ministério da Saúde no governo Lula.
Nesse período a dissidência das duas maiores lideranças do PT em Pernambuco estava instalada.
Mais sangue, mais briga, mais ódio, mais rasteira.
Mais e mais.
A pausa para inglês ver uniu os brigões na reeleição de João Paulo.
Em 2004, não deu pra ninguém.
Com 56,11% dos votos válidos ganhou no primeiro turno.
Não perdeu em nenhuma zona eleitoral do Recife Voltou a euforia nas hostes petistas, mas a desconfiança interna não parou.
Grupo de João Paulo, grupo de Humberto e vice-versa.
Brigas e muita alergia.
Nenhum petista podia chegar perto do outro.
O sangramento já estava no nariz.
Pequena hemorragia.
Chegou 2006 e com ele a figura de Eduardo Campos.
Candidato ao governo de Pernambuco, apareceu manhoso batendo em Mendonça Filho em on e em Humberto Costa em off.
A coligação União por Pernambuco, capitaneada por Mendonça Filho disparou sem dó nem piedade contra Humberto Costa, chamando-o de vampiro e o candidato do PT perdeu valiosíssimos pontos.
A eleição foi para o segundo turno com Eduardo Campos em primeiro e Mendonça Filho em segundo.
Humberto Costa ficou em terceiro - Em plena campanha, o então candidato petista era acusado pelo MPF de participar, juntamente com o tesoureiro do PT, Delúbio Soares da Operação Vampiro que desviava dinheiro do Ministério da saúde na compra de homoderivados.
Em 2009, Humberto Costa foi inocentado.
O curioso deste episódio é que Humberto Costa não teve o partido unido em sua defesa.
Aí nem o torniquete de alguns aliados estancou o sangue.
O PT pernambucono seguiu sua história. a maior liderança até então era o prefeito do Recife.
João Paulo.
O cara!
Machucado e tentando curar as feridas, o PT chegou em 2007 com suas eternas reuniões para escolher o futuro candidato do Recife.
Humberto colocou-se de prontidão.
O general JP nem ligou.
Com a caneta e a chibata na mão, escolheu o desconhecido do público João da Costa.
Em meados de agosto, setembro de 2007, sentiu sinais de que João da Costa não seria um pau-mandado.
Não havia tempo, prazo ou legislação vigente que desse respaldo aos seus pensamentos de mudança.
Tarde demais.
Em outubro João da Costa venceria no primeiro turno com 51% dos votos.
João Paulo ganhou mas não levou.
Comemorou com sorriso amarelo e foi pra casa já pensando na hemorragia que seria 2009.
No caminho parou para uma reflexão, tipo mea-culpa: " não ouvi Lula aqui no Recife, saquei Humberto seu preferido “.
O melhor agora seria entrar em transe e ouvir o quê as forças da natureza queiram repassar.
Primeiro dia de janeiro, à 5h da manhã lá estava João Paulo na praia de Boa viagem no tradicional banho para tirar as ziqueziras do ano anterior e pedir que o poste que ele elegeu seguisse as orientações do ex-núcleo duro.
Como se nada tivesse acontecido e o prefeito fosse outro, João Paulo começou a despachar com a " sua equipe " em Boa Viagem.
O prefeito eleito era o último a saber e o último a chegar.
Pior, as decisões já haviam sido tomadas.
Uma, duas, três reuniões.
Até que a relação entre os dois virasse lixo.
Hemorragia interna.
Os sinais mais comuns são palidez, suor e pulso rápido.
Mantenha a vítima em uma posição confortável, protegendo-a do frio.
Não dê alimentos nem a aqueça demais com cobertores.
Dai em diante a relação petista degringolou.
Sobrou para João da Costa.
Antes inimigos, João Paulo e Humberto Costa uniram-se e o prefeito, cargo, não pode disputar a sua releição.
No 9 andar do Palácio Antônio Farias observava a belíssima paisagem do Recife com seus rios e pontes e não podia fazer mais nada.
Iria deixar de ser prefeito no dia 31 de dezembro de 2009.
Na disputa pelo PT, quem?
A dupla Humberto e João Paulo na vice.
Perderam de novo.
Eduardo Campos fez barba, cabelo e bigode, atropelou os petistas, rompeu a aliança e elegeu no primeiro turno seu candidato Geraldo Júlio.
O PT, totalmente desidratado internamente e perdendo o apoio nas ruas ficou a ver navios.
Parece que nada consegue uní-los.
Hoje, sem candidato competitivo para concorrer com o sucessor do PSB continua sangrando e, de novo bate o pé contra a sugestão de Lula em apoiar outro candidato que não seja do PT.
A questão é interna, o PT de Pernambuco é diferente, é das bases e as decisões serão tomadas aqui.
Que coisa!
Henrique Barbosa é jornalista