Da Agência Estado Forçada a abrir vagas em sua equipe para abrigar cada vez mais aliados, além de ter de manter os espaços dos que já a acompanhavam, a presidente Dilma Rousseff baterá um recorde neste ano eleitoral.

Quando concluir a reforma ministerial que pretende fazer nas próximas semanas, a Esplanada contará, pela primeira vez na história, com titulares de 10 partidos diferentes.

Dilma já tinha empatado com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no número de partidos aliados que integra o seu primeiro escalão: nove.

Com a saída do PSB, em setembro, passou a contar com oito legendas na base.

Na reforma, pretende contemplar o recém-criado PROS e o PTB, o que fará o número de aliados com espaço na Esplanada chegar aos dois dígitos.

Trata-se de mais um recorde de Dilma nesta seara.

Ela já havia antes alcançado o maior número de ministérios em um governo, pois criou as pastas da Aviação Civil e da Micro e Pequena Empresa.

Esta última dada ao PSD.

Recebeu, assim, 37 pastas de Lula e hoje está com 39.

Presidencialismo O modelo de presidencialismo praticado no Brasil, batizado de “presidencialismo de coalizão”, explica o fenômeno.

Por meio dele, o partido do governante eleito não obtém automaticamente maioria dos votos no Legislativo.

Precisa, então, abrir espaços no seu governo para estruturar uma coalizão governista.

Assim, a fragmentação partidária das três últimas décadas forçou os governantes a criar novos ministérios para abrigar as legendas que foram surgindo.

Até 1980, legalmente o Brasil podia ter apenas dois partidos - Arena, governista, e MDB, de oposição.

A Constituição de 1988 escancarou as portas para as novas legendas e hoje elas são 32, das quais 10 não têm nenhuma representação no Congresso.

Mesmo com 10 partidos no governo, Dilma Rousseff não vai aumentar o tamanho de sua base de apoio na Câmara, que continuará com 357 dos 513 deputados.

Quando a presidente assumiu o governo, em 2011, recebeu do padrinho Lula uma base semelhante à que tem agora.

O que mudou foi o número de partidos que lhe dá apoio.

O PROS, que é controlado pelos irmãos Cid e Ciro Gomes, dissidentes do PSB, tem 18 deputados.

Mas exigiu um ministério.

Deverá ficar com a Integração Nacional, que tem orçamento de R$ 8,45 bilhões, dos quais R$ 6,56 bilhões para investimentos. “O Brasil não precisa de tantos partidos nem de tantos ministérios”, disse o líder do PMDB na Câmara, deputado Eduardo Cunha (RJ).

Ele é autor de uma proposta de emenda à Constituição que limita em 20 o número de ministérios.

Para Cunha, é preciso dar um jeito de estancar a criação de novos partidos. “Se juntar o PRB, o PC do B, o PDT, que já têm ministérios, e o PROS e o PTB, que vão entrar na Esplanada, mal conseguiremos um PMDB”, disse ele.

De fato, os cinco partidos citados reúnem 78 deputados, enquanto o PMDB tem 76.

O líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM), também é contrário à grande quantidade de partidos que existe no Brasil.

Ele lembra que as legendas se pulverizam como tais, mas quando chegam ao Congresso elas formam blocos que possibilitam a luta por mais espaço. “No Senado, tenho de negociar com a oposição e três blocos da base do governo.

Se tivesse de correr atrás de partido por partido, não haveria tempo para mais nada.

O PSD, por exemplo, tem só o senador Sérgio Petecão (AC).” Abrigo O fenômeno da criação de novos ministérios para abrigar aliados pode ser verificado desde o início da redemocratização, que começou com o governo de José Sarney (1985/1990).

A exceção foi o de Fernando Collor (1990/1992), que reduziu de 25 para 17 o número de ministérios.

Sem base de apoio no Congresso, Collor teve os direitos políticos cassados por oito anos após renunciar ao mandato em 1992.

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigou seu governo concluiu que ele havia cometido crime de responsabilidade.

Sarney governou o Brasil com 25 ministérios.

Eles foram entregues a apenas dois aliados, o PMDB e o PFL.

Mas estes dois formavam uma imensa base parlamentar tanto na Câmara quanto no Senado e Sarney pôde dar estatais para outros aliados, como o PTB.

Itamar Franco (1992/1994) assumiu o governo depois do desastre da administração Collor e acabou tendo o apoio de todas as legendas, até mesmo do PT.

Ele fez um governo de coalizão nacional, sem oposição.

Distribuiu 25 ministérios para sete aliados.

Fernando Henrique Cardoso (1995/2002) reduziu para 24 o número de ministérios em seu primeiro governo e os distribuiu a cinco aliados que lhe deram uma folgada base de sustentação no Congresso.

A oposição ficou por conta do PT e do PDT.

No segundo mandato, sacudido em 1997 pelo escândalo político da compra de votos para a emenda da reeleição, além de questionamentos quanto à privatização das empresas telefônicas, Fernando Henrique se precaveu e aumentou o número de ministérios para 30.

Manteve cinco partidos de sua base na Esplanada.

Quando assumiu, Lula (2003/2010) criou novas secretarias, como a da Igualdade Racial, das Mulheres e a da Pesca e, junto com outras que já existiam - Direitos Humanos, Secretaria-Geral da Presidência e da Comunicação -, deu a elas o status de ministério.

Entregou as novas pastas aos petistas, assim como a maioria dos ministérios.

O PL (depois substituído pelo PR), partido do vice José Alencar, recebeu o Ministério dos Transportes, o PC do B o do Esporte e o PSB o da Ciência e Tecnologia.

Abalado politicamente pelo mensalão, Lula entregou ministérios de peso ao PMDB, como o da Integração Nacional e o da Saúde.

Para o PP reservou o Ministério das Cidades.

Quando encerrou seu mandato, em 2006, Lula tinha nove partidos na Esplanada.

No segundo mandato, criou mais duas secretarias com status de ministério, chegando a 37 pastas.

Manteve nove partidos nelas.

As informações são do jornal O Estado de S.

Paulo.