Foto: JC Imagem Do Jornal do Commercio deste domingo (19) O prefeito de Olinda, Renildo Calheiros (PCdoB) recebeu a equipe do JC em seu amplo e confortável gabinete no Palácio dos Governadores, sede do governo municipal.
Bem humorado, usou de sua retórica habitual e culpou a burocracia pelo atraso das obras, garantindo que vem fazendo um “esforço de bicho” para sanar os gargalos da administração, alvos de constantes críticas da oposição, sobretudo, dos movimentos sociais da cidade.
Nesta entrevista, abordou, entre coisas, a sua relação com os aliados e disse que, apesar de todas as dificuldades, “ganhou 2013”, contrariando as expectativas da oposição, a qual, segundo ele, quer provocar o “caos”.
Segue os principais pontos da entrevista: JORNAL DO COMMERCIO – Há queixas em Olinda de que a cidade virou um canteiro de obras inacabadas.
Muitas delas se arrastam desde a gestão da sua antecessora, a ex-prefeita e hoje deputada Luciana Santos.
Qual o motivo de tanta demora?
RENILDO CALHEIROS – Olinda nunca teve tantas obras como hoje.
E são obras que modificam, de maneira significativa, a infraestrutura da cidade.
Agora, talvez eu tenha cometido um erro grande em trazer tanta coisa de uma vez só, porque com obras demais, com a equipe que se tem e os instrumentos para se tocar todas elas, de uma só vez, realmente não é fácil.
Quanto à demora, é preciso que se entenda que atendemos a trâmites burocráticos, que acabam dificultando o cumprimento dos prazos.
Ninguém mais do que eu quer entregá-las logo, mas não depende só da nossa vontade.
JC – E depende do quê?
RENILDO - A obra da orla, por exemplo, não é uma necessidade de hoje, é de anos.
Ela não foi feita porque não é fácil fazer um projeto de compatibilização da área, que é estreita, e nela botar calçadão, ciclovia, asfalto, equipamentos de ginástica… É preciso compatibilizar muita coisa, como desapropriações na Justiça, para abrir espaço.
JC – Então o senhor atribui o atraso das obras da orla, entre outras coisas, a fatores judiciais?
RENILDO – São muitas coisas.
E algumas delas são decisivas.
Eu não tenho como asfaltar um lugar se não tenho a emissão da posse para fazer um deslocamento de muro e ali colocar a pavimentação.
JC – O senhor pode estipular um novo prazo para conclusão dos serviços?
RENILDO – O que posso dizer é que nas proximidades do mês de abril toda orla ficará concluída.
E digo mais: concluída essa etapa, vou iniciar a obra da engorda das praias.
JC – E quanto às outras obras da cidade que ainda não foram concluídas, como a entrega de habitacionais, asfaltamento de ruas, e a polêmica Avenida Presidente Kennedy, alvo de reclamações?
RENILDO – Muitas obras já entregamos.
Outras estão sendo feitas e algumas vão começar, mas não são obras simples.
Com relação à Avenida Presidente Kennedy, sempre defendi a obra. É bom salientar que ela é de responsabilidade do governo do Estado.
No entanto, não escondo a defesa que faço dela, porque visa estabelecer na avenida um corredor exclusivo para ônibus, uma necessidade urgente das grandes cidades.
JC – Mas há reclamações de que a concepção do projeto foi equivocada e vem provocando transtornos, principalmente aos pedestres e comerciantes.
Sem falar dos acidentes que aconteceram na via depois das intervenções…
RENILDO – Primeiramente, quero esclarecer que não foi a obra que fez da Kennedy uma via estreita, ela já era estreita.
Em segundo, é preciso considerar que em 13 pontos a obra acabou alargando a via, exatamente em frente às paradas de ônibus.
E também é preciso que a gente entenda que o brasileiro é muito imprudente no trânsito, ultrapassa onde não pode, corta onde não deve e, além do mais, os acidentes acontecem em toda parte.
A secretaria estadual que cuida dessa obra tem um levantamento, que será apresentando em breve, em audiência pública, no qual mostra como os acidentes na Kennedy diminuíram.
Há muitos depoimentos que atestam os ganhos que muitas pessoas tiveram com a organização do corredor exclusivo de ônibus e com o terminal de passageiros (do Xambá).
JC – Algumas medidas impopulares como o aumento do IPTU e o modo como vem sendo estabelecido o novo método de cobrança, através do mapeamento pelo Google, têm sido alvos de críticas. É uma medida correta?
RENILDO – É uma medida certa e necessária.
Primeiro porque a lei de Responsabilidade Fiscal obriga todo gestor a não abrir mão dos recursos que podem ser arrecadados.
Segundo, porque das grandes cidades brasileiras, Olinda é a mais pobre.
Tem uma arrecadação menor, mas a demanda por serviço não é menor do que em outros lugares.
Pelo fato de as pessoas priorizarem outras despesas, como contas de água e luz, o IPTU é um imposto que todo mundo deixa pra lá.
Só que quem administra precisa dele para pagar as contas.
O que tem se verificado é que tem casas e apartamentos que estão cadastrados num padrão, e na verdade são de outro, e é por isso que lançamos mão do Google para fazer estas comprovações.
JC – Prefeito, outra queixa…
RENILDO - Mas você só pega a parte das queixas.
Não se esqueça que eu tenho um ano apenas e dei neles tudinho (na oposição), e no primeiro turno.
JC – Mas o senhor já está no segundo mandato…
RENILDO - E dei neles duas vezes… reclamação sempre tem, não reclamaram até de Jesus Cristo?
Eu não estou aqui (na prefeitura) porque alguém deu um golpe e me botou, mas porque a cidade acordou, tomou banho, escovou os dentes, botou uma camisa, tomou café, foi para uma fila e disse: é nesse aqui que vou votar (bate firme na mesa).
JC – Mas prefeito, insisto na pergunta.
Há queixas de sua possível ausência na cidade.
RENILDO – Não é verdade, estou aqui todo dia. É claro que preciso me comunicar melhor com o povo, até para acabar com essa ideia de que não vivo na cidade.
Moro aqui há muitos anos, num endereço bastante conhecido.
Mas estou tomando algumas providências para passar o dia andando mais pela cidade e vou diminuir a quantidade de despachos na prefeitura.
Quando Yves Ribeiro (ex-prefeito de Paulista), passava o dia todo nas ruas, era um monte de reclamação de que ele não ia na prefeitura.
Então, onde está a solução?
Está no meio termo. É passar parte do dia na rua e outra parta na prefeitura, que é o que já comecei a fazer.
Quem está na oposição quer bater boca com o prefeito todo dia.
Fico contente que eles falem da minha administração, porque têm que reconhecer que Olinda é um canteiro de obras.
JC – O senhor tem uma ampla base na Câmara de Vereadores.
Isso não inviabiliza a oposição?
RENILDO – Eu tenho oposição em todo lugar e a principal delas é em alguns veículos de comunicação, porque acordo todo dia com a divulgação de um buraco em algum lugar.
A cidade tem buraco?
Tem.
Se quiserem mostrar buraco, não vai faltar, se quiserem mostrar o lixo, não vai faltar.
Agora, o que não posso é levar meu dia a dia rebatendo críticas.
Eu quero é terminar as obras.
JC – Como está sua relação com a Câmara Municipal?
Há informações de que aliados reclamam que o senhor centraliza as decisões e não ouve as bancadas.
O PT, por exemplo, também reclama da diminuição de espaços no governo.
RENILDO – Minha relação com a Câmara é excelente.
E esse discurso é de um ou outro.
Chame todos os partidos e pergunte se todos têm, nos governos estadual e federal, os espaços que acham que merecem.
E é claro que nos municípios os partidos vão dizer que não têm, mas não posso montar um governo baseado nos partidos, mas baseado nos problemas da cidade.
Na política, você vai ter sempre reclamação.
Vá na Assembleia Legislativa, no Congresso e vai ver sempre alguém reclamando.
Isso é da natureza da política.
E como é que você mede se a relação é boa ou é ruim?
Qual foi a matéria de importância para o município que a Câmara rejeitou?
Nenhuma.
JC – Mas o fato de ter a maioria na Câmara não o favorece?
RENILDO – Tenho maioria e uma posição confortável, é verdade.
Falar mal de mim, já faz tempo que a turma da política fala.
Agora, quantos vereadores a oposição elegeu?
Um, que se chama Arlindo Siqueira.
JC – E Jorge Federal?
RENILDO – Não quero falar mal dele, porque já foi líder do meu governo.
Só que Jorge não se elegeria pelo partido dele (em 2012), estava perdido.
Fui eu quem o chamei para minha coligação.
O PCdoB não queria, mas eu não queria abandoná-lo.
JC – Por que?
RENILDO – Ele foi muito fiel a mim, como líder.
Mas, passada a eleição, achou que do meu lado tinha muita gente e que era mais fácil ter voto do outro lado.
Só que Jorge foi eleito com os votos da minha coligação.
Aí eu posso ficar batendo boca, todos os dias, com um cara que se elegeu com meus votos?
JC – Alguns movimentos, como o Olindear Apartidários e o Acorda Olinda, acusam o senhor de ter cooptado lideranças comunitárias, numa tentativa de diminuir as críticas à sua gestão.
O que o senhor tem a dizer sobre isso?
RENILDO – O que acontece é que muita gente se esconde atrás de uma nomenclatura para ninguém saber quem realmente são.
Quando conversar com eles, pergunte o que foi que trouxeram para a cidade e veja quem são essas pessoas.
O Acorda Olinda é liderado por Fofão (Flávio Urquiza), filho de Jacilda Urquiza (ex-prefeita de Olinda).
Foi candidato a vereador e perdeu a eleição, aí eu posso discutir com um cara desse?
Jacilda já disputou contra mim e contra Luciana, perdeu três vezes, agora botou a filha e também perdeu.
Se eu quisesse falar mal do Fofão, iria abrir uma bateria de coisas aqui, mas não é a mim que ele deve prestar contas.
Quanto ao Olindear, procure saber quem é o cabeça, se ele disputou eleição e quantos votos teve.
Não posso ficar valorizando isso.
Vladimir Labanca (um dos integrantes) é uma pessoa batalhadora e eu gostaria, inclusive, que ele me ajudasse no governo.
No dia que ele quiser vir, trago para cá.
Cada um de nós vai prestar contas do que fez e do que não fez, e o povo é quem vai julgar.
Não pretendo bater boca com essa gente, porque venci a eleição da maneira mais extraordinária que alguém pode vencer, numa cidade onde a situação nunca fez o sucessor e venci duas eleições no primeiro turno.
JC – Quem o senhor vai apoiar para governador e presidente?
RENILDO – Quando se é prefeito, a última coisa que você quer é tratar de eleição.
Primeiro, vou me concentrar em terminar as obras.
E esse negócio de eleição é preocupação de quem vai ser candidato.
No momento certo falo sobre isso.
Agora só estou focando na administração.
JC – O governador Eduardo Campos considera que ganhou 2013.
O senhor ganhou 2013?
RENILDO – Eu ganhei 2013, porque 2013 foi aqui o ano mais difícil por conta da queda de arrecadação.
Aqui, apesar das dificuldades, conseguimos aportar novos investimentos, estamos concluindo aqueles que a gente já arrumou e estamos com os compromissos em dia.
Agora, os que querem desgastar o governo, toda hora dizem uma coisa.
Olinda é praticamente uma cidade que não investe com recursos próprios, busca recursos fora para resolver os problemas da cidade.
Isso só é possível porque a gente tem muita força política e credibilidade.
E é essa credibilidade que a oposição tenta atingir, porque se ela atinge significará que não vou trazer mais recursos para cá e se eu não trouxer, isso aqui vai virar um caos.
E é o caos que eles querem, para se beneficiarem disso numa próxima eleição para prefeito.