Por David Friedlander, na Folha de São Paulo.
SÃO PAULO - Que tal dar um ministério de R$ 8,5 bilhões (Integração Nacional) ao PTB em troca de 39 segundos a mais na propaganda eleitoral de TV?
Ou manter a pasta das Cidades (orçamento de R$ 24 bi) com o PP para ganhar um minuto e 18 segundos?
O PMDB já tem cinco ministérios, mas quer mais um.
Tem dois minutos e 18 segundos para oferecer.
E, claro, ainda há o recém-criado Pros com seus importantíssimos 21 segundos no horário eleitoral.
Em essência, esse é o jogo na reforma ministerial que a presidente Dilma negocia com os políticos.
Para amarrar o apoio dos partidos a seu projeto de reeleição, ela oferece parte das vagas abertas pelos ministros que vão disputar as eleições.
Tudo para ampliar o número de palanques nos Estados e, principalmente, garantir o maior tempo possível na propaganda eleitoral de rádio e TV.
Os partidos, por sua vez, chantageiam porque querem verbas para liberar, usar a máquina pública a seu favor e o contato direto com fornecedores do governo, potenciais financiadores de campanha.
Melhorar a eficiência do governo ou competência para os cargos raramente entram nesse tipo de conversa.
Deveriam.
Uma das críticas ao trabalho de Dilma é que ela se cercou de gente que tem medo dela, diz “sim, presidenta” a tudo, e a ausência de contraponto teria contribuído para o fraco rendimento em algumas áreas.
Barganha política e loteamento de cargos são valores já arraigados na política brasileira.
Apesar das provas de que essa prática explica boa parte da ineficiência e da corrupção no setor público, políticos de todos os partidos usam o toma lá, dá cá para se reeleger ou fazer sucessores. É uma pena, mas parece que pouca gente se espanta com isso.
Na última campanha presidencial, vendeu-se a ideia de que Dilma era uma dessas pessoas: não gostava dos políticos, não tinha estômago para a barganha, era uma “gerentona” obcecada por gestão, cobrava resultados.
Não é o que parece agora.