Por David Friedlander, na Folha de São Paulo No filme “As aventuras de Pi”, um sucesso no ano passado, um garoto é forçado a dividir um bote com um tigre-de-bengala para se salvar de um naufrágio.
Foram 227 dias à deriva, iniciados com medo e desconfiança de parte a parte.
Ao longo da jornada, os dois conseguiram estabelecer uma trégua, que os salvou.
O Fórum Econômico Mundial, na próxima semana em Davos, na Suíça, é o bote da presidente Dilma e dos tigres do mercado.
Dilma não está indo pela primeira vez a Davos por ter sido capturada pelas forças do mercado. É uma tentativa de acalmar as feras.
Lá estarão os empresários e investidores mais ricos do mundo.
A maioria tem um pé atrás em relação a ela.
Descrevem seu governo como um repelente contra investidores: intervencionista, estatizante e fraco em matéria econômica.
Alguns começam a dizer que ela vai radicalizar esse modelo, caso vença a eleição.
E o sentimento negativo pode ficar ainda pior se o país vier a ser rebaixado pelas agências de risco.
Dilma e sua equipe agora reconhecem que sem a confiança do setor privado não há política econômica que dê certo.
Já subiram os juros para combater a inflação, ajeitaram as regras de concessões do jeito que o mercado queria, mas nada surtiu efeito.
Por isso, apostam alto em Davos para quebrar a tensão.
Acham que a força da estratégia não está na mensagem, mas na mensageira.
A primeira vez da presidente em Davos seria um sinal de atenção para com o mercado.
Ela vai falar de seu compromisso com o combate à inflação, o equilíbrio das contas públicas e com a continuidade das concessões.
Tudo isso já foi dito várias vezes pelos ministros e não adiantou.
O que pode fazer a diferença, espera Dilma, é que ela tem as concessões de estradas e aeroportos do fim do ano passado para apresentar.
Mais do que isso: o recado desta vez será dado pela própria presidente –que tem enormes chances de continuar no cargo por outros quatro anos.