Uma festa nos escombros.

Na última sexta-feira, uma das famílias que recebeu sua indenização nos últimos dias ainda tentava retirar o telhado e duas portas da antiga casa no Loteamento São Francisco.

Nesta segunda-feira, dezenas de pessoas devem correr ao Fórum de Camaragibe com esperança de conseguir liberar o dinheiro a que tem direito antes do recesso do judiciário.

Hoje, partir das 19h, nos escombros de casas demolidas para construção do Ramal da Copa, nas proximidades do Terminal Integrado da cidade da Região Metropolitana do Recife, os removidos pelas obras da Copa do Mundo que receberam ou não prometem se reunir para um Natal de quem só não perde a esperança.

No Brasil, entre 170 mil e 250 mil pessoas estão sendo obrigadas a sair de suas casas para dar espaço a obras realizadas para o Mundial de 2014, segundo estudo da Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa.

Em Pernambuco, apesar do Governo do Estado evitar tratar por residências e só informar o número de lotes que estão sendo desapropriados, estima-se que são mais de 2.000 famílias nesta situação.

Além dos removidos em Camaragibe, devem participar também representantes de outras comunidades onde houveram remoções como Cosme e Damião, São Lourenço da Mata e o Coque.

No Loteamento São Francisco, em Camaragibe, as famílias dizem que são pelo menos 129 residências que estão sendo desapropriadas.

E apesar de estarem confraternizando, elas fazem questão de lembrar que as insatisfações são muitas, só que diante de tantas mudanças alguns querem se despedir do seu bairro, outros abraçar os amigos/vizinhos e ainda assim fazer um ato para contar o sofrimento principalmente de quem já foi removido e corre o risco de passar o fim de ano sem receber suas indenizações.

Na última terça-feira, famílias do Loteamento São Francisco queimaram pneus para chamar a atenção do Governo do Estado.

O poder público diz ter feito audiências públicas, explica que em alguns casos as famílias não receberam por não ter conseguido vencer a burocracia para comprovar a posse, mas para os ativistas a realidade é que a Copa do Mundo cria dezenas de sem teto a poucos quilômetros da Arena Pernambuco.

E por isso eles tentam também arrecadar alimentos para os mais necessitados, convocando a população a doar cestas básicas.

Na última quinta-feira, representantes das 129 famílias do Loteamento São Francisco se reuniram para organizar os últimos detalhes da festa, que é também um ato de denúncia para mostrar a situação de quem saiu de sua casa e vive à espera da liberação das indenizações.

No encontro, relatos de quem viu sua casa demolida há três meses, não tem dinheiro para pagar o aluguel do imóvel para onde se mudou e ainda espera o pagamento da indenização.

Outro, que também não recebeu, teve a casa recém alugada invadida pelas águas nas chuvas da última semana.

Uma minoria recebeu os pagamentos e corre para tentar se mudar ainda em 2013, mesmo assim decidiu organizar a confraternização e mais uma vez tentar divulgar a situação, já que mesmo os que foram indenizados criticam os valores baixos e reclama de falta de diálogo com o Governo do Estado.

Para quem perdeu em 2013 quase tudo que tinha na vida, será uma oportunidade de em meio aos escombros do antes bucólico bairro se despedir dos vizinhos, mais uma vez relatar as histórias de angústia e sofrimento, mas principalmente um ato de esperança de que unidas as famílias podem conseguir muito mais do que conseguiram até agora.