Qual o Brasil que queremos?
Por Eduardo Campos O povo brasileiro tem sido capaz de se mobilizar para obter grandes conquistas.
Primeiro veio a democracia.
A frente democrática liderada pelo PMDB juntou diferentes forças políticas e legou-nos uma democracia que está consolidada na Constituição de 1988. À redemocratização seguiu-se o desafio de derrotar a inflação.
O governo Itamar Franco iniciou as reformas macroeconômicas e institucionais para a estabilização da economia.
No segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso consolidou-se o chamado tripé, fundado na política monetária do regime de metas da inflação, na política fiscal de equilíbrio, e na política de câmbio flutuante, permitindo que a memória da hiperinflação ficasse cada vez mais distante.
A ampla aceitação desses fundamentos, revelada na sua preservação pelo governo do PT que se seguiu ao do PSDB, foi uma conquista da sociedade brasileira que lançou as condições para o novo ciclo que se seguiu com a eleição do presidente Lula.
Este terceiro ciclo de mudanças, liderado pelo PT, promoveu a inclusão social de milhões de brasileiros.
Os setores populares, com suas organizações, mobilizações e valores, foram definitivamente legitimados a participar como sujeitos da democracia.
Nesses três momentos, o povo brasileiro se uniu de alguma maneira, mesmo em meio às diferenças e aos conflitos.
E o povo saiu ganhando com a superação de problemas crônicos.
Mas hoje a nação enfrenta um sentimento de que o ciclo da inclusão começa a dar sinais de estagnação e perda da capacidade de se renovar para dar respostas aos novos desafios.
A juventude que foi às ruas em junho expressou três demandas fundamentais para quem está no início da conquista da cidadania plena.
Primeiro, o desejo de melhoria da qualidade de vida, por meio da crítica aos serviços de transporte, de segurança, saúde e educação.
Depois, inquietação com a quantidade e qualidade dos empregos.
E, finalmente, rejeitou a corrupção e a política atual.
O povo brasileiro não quer mais do mesmo.
Não mais se satisfaz com a polarização que a velha política lhe tenta impor, assim como não mais se contenta com a louvação a benefícios já incorporados ao seu quotidiano.
Sabe que a qualidade de vida da imensa maioria ainda deixa muito a desejar, que as instituições funcionam mal, que os serviços públicos são de baixa qualidade e que a economia precisa crescer mais.
O desafio para um novo ciclo é o de interpretar e solucionar estas demandas por (i) uma economia mais produtiva e competitiva, (ii) por um Estado mais eficiente, e (iii) por um novo modo de fazer política.
Uma economia mais produtiva e competitiva precisará manter e refinar os fundamentos da estabilidade, o que passa pela revisitação do pacto federativo, bem como pela redobrada atenção com a qualificação da despesa pública.
Instrumentos que assegurem a atuação técnica do Banco Central também vão ser importantes.
Todos esses detalhes serão objeto de amplo, democrático e sem preconceito debate para a construção do programa de governo a ser apresentado pela Coligação PSB-REDE-PPS e outros partidos que se venham a juntar ao novo polo político que surge para a nova fase de nosso desenvolvimento.
Este programa precisará também: (i) conferir direção estratégica, com narrativa clara e planejamento, a fim de afastar as incertezas que hoje adormecem a disposição ao investimento; e (ii) buscar ampliar o investimento privado.
Para isso terá que haver transparência do planejamento - não mais por períodos de quatro anos, mas por décadas.
Para aumentar o investimento público e ao mesmo tempo reduzir/simplificar a carga tributária e continuar diminuindo a relação dívida/PIB, o próximo governo vai ter que melhorar o ambiente de negócios com um programa audacioso de reforma do Estado.
Terá que dar ênfase à meritocracia e à qualidade da gestão.
Vai precisar apresentar uma estratégia de reforma tributária gradual.
Para destravar a infraestrutura, vai ter que propor um programa mais eficiente de concessões, com mais PPPs.
Terá que aumentar o investimento em capital humano, deflagrando uma revolução na educação.
A seu turno, a agenda de uma nova política implica a superação da corrupção, do clientelismo, do abuso do poder econômico e das velhas disputas personalistas que impedem o diálogo.
Implica também o desenvolvimento de novos canais de participação da cidadania na definição das políticas públicas.
A nova política vai se afirmar também pelos conteúdos novos a serem agregados.
Devem ser realçados, portanto, os compromissos com o ambiente, a educação de qualidade, a inovação tecnológica, a atração de investimentos de alto valor agregado, a organização da sociedade em rede.
O avanço da inclusão do nosso povo implica reconhecer que todas as recentes conquistas, atualmente em risco, sejam preservadas.
O PSB e a Rede lançaram plataforma por meio da qual procuram mobilizar os brasileiros para o debate sobre os caminhos que devemos seguir rumo ao aprofundamento da democracia e à consolidação de um novo tipo de desenvolvimento, sustentável social e ambientalmente.
Eduardo Henrique Acioly Campos é governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB