Foto: Guga Matos/JC Imagem Por Gilvandro Filho, colunista do Repórter JC* A partir de 1985, Reginaldo Rossi mergulhou de cabeça nas campanhas eleitorais do seu amigo Jarbas Vasconcelos.

Naquele ano, Jarbas era candidato a prefeito do Recife e teve que fazê-lo pelo PSB, num momento atípico, politicamente, em que foi forçado a mudar de partido.

A “esquerda” do PMDB estava toda com ele, enquanto os chamados “moderados” apoiavam o candidato oficial do PMDB, Sérgio Murilo.

Jarbas ganhou apertado, numa campanha muito disputada, com golpes baixos de lado a lado, inclusive.

Mas, uma campanha muito animada.

Afinal, Reginaldo Rossi era a estrela da festa, dos “showmícios’, que eram liberados naquela época.

No ano seguinte, a campanha foi para governador e o candidato do PMDB era Miguel Arraes.

Campanha histórica e radicalmente politizada, encarada como o resgate de um mandato cassado pelo golpe militar de 1964.

Arraes venceria o usineiro José Múcio Monteiro, do PFL.

E voltaria “ao Palácio das Princesas para entrar pela porta que saiu”, como cantava o grande artista Zeto do Pajeú, precocemente falecido anos depois.

A campanha de Arraes tinha em Zeto a animação artística politizada e ideológica.

Arraes adorava.

Mas, também tinha a animação popular, romântica, escrachada e que o povão amava, que era a de Reginaldo Rossi, trazido para a campanha pelas mãos do prefeito Jarbas.

A princípio, a opção brega não agradava nem um pouco a Arraes.

Foi um custo convencê-lo de que Rossi somava e ampliava o apoio junto ao povão.

Chegava a sair do palanque, nos primeiros comícios em que o “Rei do Borogodá” aparecia, sob aplausos dos rapazes e delírio das moçoilas da periferia.

Demorou, mas acabou aceitando.

Sem muita festa.

Mas, tudo bem.

Rossi não atrapalhava.

Pelo contrário.

Então… porque não?

Em um dos maiores comícios daquela ano, na Praça da Convenção, em Beberibe, Rossi se sentia em casa e desfiava os seus grandes sucessos da época: “Borogodá/Deixa de banca”, “A raposa e as uvas”, “Recife, minha cidade”, o hino extra-oficial da campanha de Jarbas, um ano antes.

Até que resolveu homenagear o candidato a governador.

Disse que cantaria especialmente para ele um de seus mais recentes sucessos.

Todo mundo ficou esperando.

Arraes, braços para baixo, cruzou uma mão sobre a outra para receber a homenagem.

A banda atacou os primeiros acordes e Reginaldo Rossi abriu o vozeirão: - Eu devia te odiar / No entanto, só sei te amar…

Gritos e aplausos calorosos na plateia.

Risos gerais em cima do palanque.

Dizem que Arraes não resistiu e sorriu.

Mas, isto eu não vi. * participei dessas duas campanhas como assessor da deputada federal Cristina Tavares, candidata em 1986 à Assembleia Nacional Constituinte e que começava a dar sinais da terrível doença que a levaria 6 anos mais tarde.

A mesma que agora tenta derrubar o “Rei”.