Por Roberto Numeriano Não sei se deveria considerar privilégio ou um tremendo peso reunir três condições que me fazem analisar e criticar o jornalismo e a política para além das convenções e do medo de ferir interesses de grupos e de pessoas.
Essas três condições (o fato de ser político militante desde os 21 anos, ser professor de jornalismo e cientista político), me proporcionam uma visão menos estreita e menos radical, em termos político-ideológicos, sobre a política em si, o jornalismo e a ciência política, mas ao mesmo tempo me proporcionam uma aguda visão sobre os critérios éticos, técnicos e científicos que devem reger esses espaços da luta humana.
Essa introdução toda é pra dizer que eu, já como cidadão político, não admito e não aceito o jornalismo político local tratar os partidos da esquerda socialista e ideológica (favor não incluir o PSB, que de socialista só tem o nome) como “nanicos”.
O PSOL, o PSTU, o PCB e o PCO, todos sabem, vivem da luta de poucos militantes e seus ideais.
Cada qual, também sabemos, carece de capital para manter aparatos estruturais e pessoais.
Afinal, não são financiados pelas burras inesgotáveis do compadrio empresa privada – partido “gigante”, consórcio que a cada eleição representa essa fraude organizada que é o nosso sistema político, o qual muitos analistas políticos vivem a incensar chamando de democracia.
Apelidar a esses partidos de “nanicos” significa dizer para o leitor de política que tais legendas não importam.
Essa visão “editada”, preconceituosa, serve mesmo para auto-justificar o nosso nanico jornalismo político, em geral provinciano, afeito ao puxa-saquismo por meio de colunas com seus textos lamentáveis, inodoros, insípidos, medíocres.
Para esse jornalismo político nanico importa apenas o “grande” partido, suas figuras que ora estão cantando hosanas a Deus, ora estão de mãos dadas com o Diabo, seu mundo de politiquice no qual prevalece a fofoca de quem deu rasteira em quem na calada dos acordos espúrios.
Esses editores nanicos do jornalismo político nanico nos chamam de nanicos e nos querem nanicos, pois nos interditam espaços, não respeitam nem estimulam o necessário contraditório político, rebaixam o debate de idéias ao resumir a política local às picuinhas entre PT e PSB e seus coronéis digitais.
Esse jornalismo político vive de escândalos, mas jamais vi investigar o grande ato coletivo e criminoso perpetrado a cada dois anos, nas eleições, quando dezenas de mandatos são na prática comprados nas periferias miseráveis de nossas cidades.
Está aqui uma grande pauta, a pauta do século: montar uma grande investigação jornalística a cada dois anos, cobrindo os subterrâneos de cada eleição (os esquemas podres e corruptos da compra e venda de votos para eleger governadores, prefeitos, vereadores, deputados etc).
Não tenham dúvida: não sobraria sequer um desses eleitos dos partidos “gigantes” e suas siglas de aluguel parasitas.
Para finalizar esta crítica (e desabafo, desde já me perdoem), lembro de um desavisado repórter que ao me abordar sobre os votos que obtive numa eleição, observou: “Poucos votos, não é, candidato?”.
E eu respondi: “Sim, mas nenhum deles comprado”.
Roberto Numeriano diz que não é jornalista nem político nanico, é professor, cientista político e militante do PSOL