Por Sérgio Goiana Os representantes dos trabalhadores brasileiros vêm lutando, há várias décadas, pela implementação da negociação coletiva de trabalho no setor público.
Nas mobilizações promovidas pelos sindicatos e centrais sindicais, o tema é sempre um dos primeiros a ser colocado em pauta como sendo de suma importância para os servidores e para a sociedade brasileira.
Mas o que seria essa negociação coletiva de trabalho?
Por que ela é tão importante?
A negociação é uma importante ferramenta de gestão administrativa por promover a pacificação dos conflitos entre servidores e governos, além de assegurar a continuidade da prestação dos serviços públicos à sociedade.
Para ser mais claro, a negociação coletiva de trabalho possibilita o acordo entre os trabalhadores e empregadores, nesse caso servidores e Estado, evitando as greves.
Ora, o conflito humano é inerente à vida.
Ele é objeto de estudo da Psicologia, Sociologia e Direito, entre outros campos do saber.
No mundo do trabalho, os conflitos coletivos se dão por uma série de motivos relacionados a interesses distintos entre empregadores e empregados.
Em geral, por melhores condições de trabalho e reajuste de salários.
Mas nos últimos tempos, ganhou terreno a defesa pela pacificação dos conflitos.
E a negociação coletiva de trabalho nada mais é que isso.
Mas por que ela ainda não foi implantada no setor público brasileiro, uma vez que já é uma realidade no setor privado?
Desde de 1978 que a Organização Internacional do Trabalho (OIT) editou a Convenção nº 151, visando a universalização da negociação coletiva.
No entanto, os poderes constituídos brasileiros resistem em aprová-la.
A negociação coletiva já estava implicitamente autorizada pela Constituição de 1988, que estabelecia as premissas para que ela fosse instituída por lei, ao consagrar o direito à sindicalização e o direito de greve para os servidores públicos.
Mas em 1991, o Supremo Tribunal Federal (STF) bloqueou a regulamentação da negociação coletiva, acolhendo Ação Direta de Inconstitucionalidade contra norma inscrita no artigo 240 do Regime Jurídico Único, que a reconhecia formalmente como um direito dos servidores públicos.
Mesmo presente na constituição, o direito de greve também não foi regulamentado.
Em 2008, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva enviou a Convenção nº 151 ao Congresso, 30 anos depois de ela ter sido editada pela OIT.
Em 2010, a Convenção foi ratificada.
Mas após a ratificação é necessária a sua regulamentação, que deve se dar através de criação de lei complementar.
Entretanto, até o momento o Governo não apresentou proposta de regulamentação da citada Convenção, o que poderá significar, a curto prazo, a invalidação da aprovação da mesma junto à OIT.
No início de 2013, a presidenta Dilma Rouseff prometeu que iria apresentar a proposta de regulamentação, mas a sua promessa não foi cumprida até hoje.
Enquanto isso, os servidores federais, estaduais e municipais continuam sendo levados a fazer greves prolongadas porque os diversos governos não aceitam negociar suas demandas.
Os trabalhadores não têm o direito de negociar perdas salariais, reajustes em seus vencimentos básicos, concurso público, a melhoria das condições de trabalho, enfim, não podem debater a melhoria do serviço público porque estão excluídos desse debate.
Ficam a mercê do presidente, dos governadores e dos prefeitos, que normalmente tomam suas decisões em prejuízo aos servidores e ao serviço público.
Paralelamente a essa questão, os grandes meios de comunicação nacional propagam, ano após ano, o que eles chamam de “malefícios” provocados pelas longas greves, fazendo com que a população veja os grevistas como inconvenientes ao desenvolvimento do País e ao bem-estar social.
A grande mídia não se interessa, no entanto, em se aprofundar no assunto para explicar que as greves só se prolongam por falta de um instrumento que obrigue os governos a negociar.
Com isso, a categoria dos servidores público vem ficando cada vez mais desgastada.
A regulamentação da Convenção nº 151 é urgente.
Essa será uma das nossas principais reivindicações, em 2014.
A sua efetivação é uma questão de justiça e respeito aos servidores públicos e à população brasileira, que são os beneficiários diretos dos serviços públicos no País.
Sérgio Goiana é Coordenador geral do Sindicato dos Servidores Públicos Federais de Pernambuco (Sindsep-PE) e diretor da Central Única dos Trabalhadores de Pernambuco (CUT-PE)