Foto: Roberto Stuckert Filho/PR Da Agência Estado O décimo aniversário do PT no poder, que o partido festejou junto com seus 30 anos de vida, começou nos sindicatos, passou por palanques e acabou nas livrarias.

Década Perdida - Dez anos de PT no Poder, que o historiador Marco Antonio Villa lança na segunda-feira, é uma dessas “comemorações”, mas fora do programa oficial.

Como já avisa o título, trata-se de uma crítica pesada aos oito anos de Luiz Inácio Lula da Silva no Planalto, mais os dois primeiros de sua sucessora, Dilma Rousseff.

Adversário antigo do petismo e das esquerdas em geral, Villa não se dedica a um balanço consolidado de grandes temas - saúde, educação, economia, programas sociais.

Preferiu criar uma linha do tempo e ir contando, ano por ano, uma história que, ao final das 280 páginas, reprova praticamente tudo no governo .

Do Fome Zero ao Trem Bala, das virtudes éticas às alianças com as velhas elites, da “improvisação na economia” ao “desmanche da indústria”, ele chega, enfim, à constatação-título: “Foi uma década perdida para o País.

Perdemos um momento único na história recente do capitalismo”.

O olhar do autor se dirige mais para atitudes, estilos, o modus operandi.

E o que ele vê, no dia a dia da era petista, é a improvisação como método, o desperdício como rotina, muita propaganda, personalismo do chefe e permanente confusão entre Estado, governo e partido.

Já no começo ele ironiza a decisão de Lula de suspender o gasto de US$ 700 milhões com a compra de caças franceses, para usar o dinheiro no Fome Zero.

Era um dinheiro que não existia, diz ele: aqueles milhões seriam linhas de crédito fornecidas pelos fabricantes do avião.

A alfinetada dá o tom do que virá: as portas se abrindo aos velhos caciques antes tão criticados, as entranhas do mensalão, PT enfraquecido e ascensão do lulismo, a “marolinha’ da crise de 2008 que custou ao Tesouro R$ 282 bilhões, o discurso otimista na economia enquanto o País vivia “o mais longo ciclo de baixo crescimento desde o real”.

Por trás de tudo, apenas um projeto de poder, diz o historiador: Lula “infantilizou a política e privatizou o Estado”.

Eliminou o debate de ideias, mesmo no PT, ao reduzir tudo a disputas pessoais.

E ganhava todas, porque o País “vivia, naquele momento enfeitiçado pelo seu carisma”.

Mas como explicar, entre tantos erros, os altos índices de aprovação popular?

Villa os atribui à “eficiente propaganda governamental, ao desinteresse popular pela política e à inexistência de uma eficaz ação oposicionista”.

Quanto a esta, Villa não perde a chance de alfinetá-la, achando-a temerosa, acomodada e, em grande parte, culpada, também, por este Brasil-2013.

Que ele define como “uma sociedade invertebrada, amorfa, sem capacidade de reação”.