Eliane Cantanhêde, na Folha de São Paulo Quanto mais pintam Dirceu e Genoino de demoníacos, mais santificam Joaquim Barbosa.

Quanto mais santificam os réus, mais demonizam o presidente do Supremo.

Deu para entender?

Ao longo do julgamento, os pró-Joaquim ganhavam de 10 a 1, mas esse placar parece estar mais equilibrado e mudando rapidamente.

Apesar de ainda muito prestigiado por grande parte da opinião pública, Joaquim também passou a “apanhar” bastante, não só de militantes e de engajados das redes sociais, mas também de colunistas da grande mídia.

Como relator do processo, Joaquim se atritava ao vivo e em cores com Ricardo Lewandowski, o revisor.

Depois, já como presidente do Supremo, desacatava Lewandowski e quem mais tivesse a ousadia de discordar dele.

No fim, virou um leão contra tudo e todos que, a seu juízo, tentavam protelar o resultado.

Agora, ao assumir poderes monocráticos e determinar o cumprimento de penas, Joaquim é acusado de “espetacularizar” as prisões, de escolher o feriado da Proclamação da República para conferir uma simbologia especial a elas e, enfim, de estar fazendo tudo isso para embalar uma eventual candidatura à Presidência.

A última novidade é que Joaquim é considerado pivô do afastamento do juiz da Vara de Execuções Penais do DF, despertando a ira da OAB e de entidades de juízes que se perfilaram a favor do colega e atiraram contra o “coronelismo no Judiciário”.

Todas essas polêmicas e todo esse nível de tensão só fazem aumentar –para o bem e para o mal– a aura do primeiro negro a assu- mir a presidência do Supremo Tri- bunal Federal.

Mas eu fico onde sempre estive.

Joaquim peca pelo temperamento, pelo viés autoritário e pela rispidez com os colegas.

E acerta ao ser determinado na busca da Justiça e na quebra de paradigmas.

Ninguém é perfeito e ele nem é santo nem é Demônio, mas a história dirá quem estava na direção certa.