Por Fernando Rodrigues, na Folha de São Paulo A prisão de mensaleiros acabou tirando o destaque positivo de um veto presidencial recente.

Há menos de duas semanas, Dilma Rousseff tomou uma decisão corajosa.

Vetou por completo uma lei que pretendia regulamentar a criação de novas cidades no país.

O veto de Dilma foi a favor do Brasil e contra os políticos.

O mais fácil seria resignar-se.

Esconder-se atrás do discurso segundo o qual “o Congresso é soberano”.

Dezenas de milhares de políticos agradeceriam.

O Brasil tem hoje 5.569 cidades e Brasília (que não é cidade nem Estado, mas apenas uma anomalia na forma de erro histórico irreparável).

Se fosse sancionada a lei aprovada por deputados e senadores, logo de saída, 269 novos municípios seriam irreparavelmente criados. É raríssimo uma cidade falida voltar a ser bairro do município de origem.

A farra custaria bilhões de reais.

Essas 269 cidades poderiam ter uma média de dez vereadores cada uma (o número varia conforme o tamanho do distrito).

Seriam 2.690 novas sinecuras.

Sem contar os prefeitos, vice-prefeitos, secretárias, motoristas, assessores, verba de gabinete e outras mamatas.

E o principal: o salário de cada um deles.

Em alguns países, cidades pequenas não pagam salários para seus legisladores.

Nos EUA, várias Assembleias Legislativas nem sequer remuneram seus deputados estaduais.

O costume no Brasil de dar um dinheirinho para essa turma se acentuou durante a ditadura militar –que precisava fidelizar os políticos à Arena.

A democracia abraçou a pilantragem com fervor.

Multiplicaram-se as cidades.

Em 1980, havia 3.992 municípios no país.

Agora, são os 5.569.

O mais cômodo para Dilma Rousseff teria sido sancionar a lei das cidades.

Desfrutaria então de milhares de novos cabos eleitorais a seu favor, todos remunerados com o dinheiro dos impostos dos contribuintes.

Dilma tomou uma decisão antipopulista. É algo raro.

Merece registro.