Foto: divulgação Roberto Numeriano, jornalista, cientista político, professor e militante do PSOL-PE Josilene é uma mulher magrinha nos seus quase quarenta anos.
Para a média de altura feminina, é até espichada.
Tem a fala rápida, ligeira como o seu jeito despachado de ser.
Com três filhos nas costas (dois meninos e uma moça), ainda sofre o rescaldo de uma separação traumática, que lhe valeu uma depressão e privações.
Quase deixou de cursar pedagogia, quase desacreditou da vida e da humanidade, quase deixou de ser Josilene.
Dia desses, lá em Serra dos Ventos, belo distrito de Belo Jardim, ela cismou da bola e foi pro meio de uma rodovia estadual.
Ninguém sabia por que essa mulher assim quis e assim fez.
Com mais duas amigas, integrantes da Associação de Moradores local, ela arranjou uns pneus velhos e, para espanto do pacato povo serrano, fez um fogaréu dos diabos.
Em minutos, surgiu do nada um sofá desdentado das almofadas, sacos de lixo e galhos; no entorno, logo o povo se aglomerou gritando no primeiro protesto organizado da história do distrito.
Mas Josilene não é Black Bloc; longe disso.
Não faz “vândalo”, como costuma chamar esse quebra-quebra que se acostumou a ver nas reportagens.
Houve quem não gostasse da fogueira de pneus dessa mulher, e num instante a polícia e uma força do GATI apareceu na rodovia, cercando as três e exigindo saber quem era o líder da manifestação.
Josilene olhou em volta e apenas enxergou as algemas, as fardas negras que causam terror, os cassetetes e as pistolas.
Teve medo.
A pergunta foi repetida.
Mais silêncio…
Até que ela foi alçando timidamente o dedo indicador da mão direita, já a imaginar a prisão certa na cadeia pública.
O que ela não sabia é que um povo, pra ser grande como o brasileiro, não pode ser covarde.
E então, aos poucos outros dedos foram levantados com coragem, ganhando o ar até se transformarem num punho fechado.
E todos ali à volta assim fizeram, até que Josilene ficou a sorrir, muda e quieta, cercada pelos policiais.
E disse que ali estava porque não há água no distrito, os velhos e as crianças sofrem, as mães mal conseguem preparar os alimentos, as pessoas adoecem com águas de poços contaminados, enquanto bem próximo há uma barragem cujas águas estão servindo antes para o lazer de endinheirados.
Queria que a Compesa fizesse um projeto para captar a água desse açude e abastecer o povo do distrito.
Simples assim.
Talvez uma PPP, tão ao gosto do governador e seus modernos gestores, possa resolver esse difícil problema.
Josilene aí está, sem medo, sem “vândalo”, livre como os ventos de sua serra.
Seu nome?
Josilene Serra Ventos.