Foto: Agência Brasil Por Jumariana Oliveira, do Jornal do Commercio No último dia 15, a população brasileira assistiu a cenas que entraram para a história do País.
Depois de um demorado julgamento, onde 25 condenados – entre parlamentares, empresários, dirigentes de instituições e lideranças políticas – foram condenados às mais diversas penas, o Brasil pode vivenciar um momento que, por várias vezes, foi considerado duvidoso.
O Supremo Tribunal Federal (STF) determinou a prisão imediata de 12 condenados – incluindo nomes da alta cúpula do PT – do maior processo de corrupção já visto no País: a Ação Penal 470, conhecida como mensalão.
O caso dividiu a classe política.
Representantes do PSDB comemoraram a decisão, enquanto petistas alegaram julgamento político.
A concreta condenação do caso veio no ano que antecede o pleito presidencial e os desdobramentos do caso devem se estender até o início do próximo ano, já que alguns envolvidos ainda terão seus recursos analisados.
Também está prevista para o primeiro semestre de 2014 a análise, por parte do STF, do caso envolvendo representantes do PSDB em Minas Gerais no desvio de verbas da campanha ao Executivo, em 1998.
O fato é conhecido como “mensalão mineiro” e já foi descrito pelo presidente do Supremo, ministro Joaquim Barbosa, como o pontapé para o mensalão do PT.
O organizador do esquema, inclusive, foi operador no caso petista, o empresário e publicitário Marcos Valério, que foi condenado por corrupção ativa, peculato, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e evasão de divisas, e sua pena chegou a mais de 40 anos de prisão.
Apesar de os dois casos terem ampla divulgação no próximo ano, o uso dos temas não deverá pautar os candidatos, na análise de cientistas políticos ouvidos pela reportagem do JC.
Professor da Universidade de Brasília (UnB), David Fleischer acredita que haverá um pacto informal entre os candidatos para não falar sobre o assunto. “Em 1994, na campanha de Lula e Fernando Henrique Cardoso, eles fizeram um acordo para não mencionarem casos extraconjugais, porque FHC tinha dois ou três casos, e Lula também teria tido casos”, citou.
Na visão dele, no próximo pleito, tanto o PT quanto o PSDB terão dificuldades em falar sobre escândalos de corrupção já que as duas legendas têm problemas com a Justiça. “O PSDB tem ‘rabo preso’, porque tem o mensalão do PSDB em Minas e Marcos Valério está envolvido.
E o PSDB de São Paulo também tem ‘rabo preso’ por conta das denúncias contra os fiscais”, completou.
O estudioso destacou que, além disso, a presidente Dilma Rousseff (PT), candidata à reeleição, não está envolvida no caso, o que pode isentá-la de reflexos negativos sobre o processo.
No caso do PSDB, o presidenciável Aécio Neves não está ligado ao mensalão mineiro, que envolve o deputado federal Eduardo Azeredo.
Para o professor de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Cláudio Couto, o resultado do pleito não vai ser alterado, pois o caso já ficou “velho” diante da sociedade. “Eu acho que o efeito vai ser quase nenhum.
No meu entendimento a repercussão já aconteceu”, destacou o acadêmico.
Ele lembrou que no ano passado, no auge do julgamento do STF, os candidatos petistas tiveram bons desempenhos no pleito municipal. “O partido foi o terceiro que mais elegeu prefeitos, inclusive, o da cidade de São Paulo, Fernando Haddad”, citou.
O esquema de troca de apoio político por dinheiro na gestão petista veio à tona em 2005, justamente no ano da reeleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
No entanto, o então gestor conseguiu garantir o segundo mandato.
Para Couto, mesmo que o PSDB não tenha o seu caso sendo julgado no próximo ano, a probabilidade de os tucanos abordarem este assunto no pleito presidencial é remota, já que na reeleição de Lula o caso não alterou o resultado.
No entendimento dos estudiosos, apesar de a população estar mais intolerante com a corrupção, não haverá muitos reflexos na votação presidencial.
Em 2013, brasileiros tomaram as ruas do País para exigir mais transparência da classe política.
Estima-se que mais de um milhão de pessoas foram às ruas de 22 capitais brasileiras no dia 20 de junho.
Em muitos cartazes, o que se viu foram pedidos pelo fim da corrupção.
Porém, o movimento foi enfraquecido poucos dias depois e temas como a reforma política, também pleiteado nas ruas, foram esquecidos.
Segundo Fleischer, apenas a repercussão do caso na imprensa não será suficiente para provocar impacto na imagem dos petistas.
Ele ainda destacou que mesmo com a ampla divulgação nas redes sociais, a grande maioria da população, sobretudo das classes C e D, não serão atingidas.