Foto: Edmar Melo/JC Imagem Por Felipe Lima Do Jornal do Commercio deste sábado (16).
O governador de Pernambuco e presidenciável Eduardo Campos deixou de lado críticas mais fortes ao governo federal e sacou nessa sexta-feira (15) um discurso conciliador ao comentar as duas operações de importação de metade de cascos de navios feitas pelo Estaleiro Atlântico Sul (EAS). “Houve a necessidade para se colocar em dia as encomendas de fazer a importação, ela houve, nós preferíamos que ela não houvesse.
Mas o importante é perseverar para que amanhã não se precise fazer esse tipo de importação”, afirmou após a solenidade de anúncio dos primeiros investimentos do Programa Conexão Cidadã, que levará internet 3G para 125 vilas, povoados e distritos pernambucanos até meados do próximo ano.
O EAS, em 2013, trouxe prontos da China praticamente metade de dois cascos de Suezmax: um para o Dragão do Mar, terceira encomenda feita pela Transpetro que deverá ser entregue em janeiro, e outro para a quarta embarcação, ainda sem nome.
Na última quinta-feira, um navio, saído do porto chinês de Dalian, atracou em Suape trazendo a segunda estrutura, de 11,5 mil toneladas.
A importação, realizada apenas pelo EAS até agora, pegou de surpresa o mercado e arranhou a imagem do Programa de Modernização e Expansão da Frota da Transpetro (Promef), catalisador do reerguimento da indústria naval e capital político do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Isso porque o Promef tem como uma de suas três premissas, apresentadas em palanques a apresentações técnicas, “construir navios no Brasil”.
Com o cronograma sacrificado por conta de um atraso de 20 meses na entrega da primeira encomenda - o João Cândido -, o EAS optou por importar partes para conseguir, até 2019, honrar o contrato de entregar 16 petroleiros da primeira versão do Promef.
A empresa classificou a operação como “parte do dia a dia da indústria naval”.
Entretanto, dos três estaleiros em operação e com encomendas da Transpetro, até agora somente o EAS precisou comprar pedaços de navio no mercado internacional. “Nós sabemos o esforço enorme que tem sido feito pelos trabalhadores, dos encarregados, dos acionistas, do governo brasileiro, do governo pernambucano para fazer essa reconstrução (da indústria naval) e é importante que possamos fazê-la.
Mas com tranquilidade, não brigar com os fatos”, discorreu o governador. “Claro que a gente preferia não precisar importar.
Mas todo processo de reconstrução ou de construção de um setor industrial tem, em toda parte do mundo, uma curva de aprendizagem e nós pagamos o preço do tempo em que a indústria naval brasileira foi destruída.
Chegamos a ter a segunda maior indústria naval do mundo e perdemos completamente e importávamos tudo.
Precisamos, para cumprir o cronograma de entrega, importar partes.
Dentro em breve não vamos precisar importar essas partes.
Importante é ter ousadia de reconstruir aqui no Brasil e em particular em Pernambuco, que abriga dois dos três estaleiros que surgiram na reconstrução do setor naval brasileiro”, finalizou Eduardo Campos.
O tom ameno do governador tem sua razão de ser.
Apesar de Pernambuco ter sido escolhido como endereço do EAS na gestão Jarbas Vasconcelos, foi Eduardo Campos chefiando o executivo estadual quem apareceu nas principais fotos e solenidades do empreendimento.
Do corte da primeira chapa de aço, em 2008, ao lançamento do problemático João Cândido, em 2012.
Sem contar que o governo do Estado, sob seu comando, promoveu programas de capacitação de mão de obra, em especial o reforço de escolaridade iniciado em 2007, para pernambucanos conseguirem uma carteira assinada no EAS.
E eis que terminou sendo justamente a defasagem técnica da mão de obra um dos motivos para o começo das operações do EAS terem sido tão atribuladas.