Ocupações precárias, ausência de proteção social, jornadas de trabalho mais extensas e menores salários ainda são as condições às quais trabalhador negro é submetido na Região Metropolitana do Recife (RMR).

Dados da Pesquisa Emprego e Desemprego (PED), sobre a inserção dos negros no mercado de trabalho na RMR em 2012 e divulgadas, nesta terça-feira (5), pela Agência Condepe/Fidem, em parceria com o Dieese revelam que apesar da redução das desigualdades socioeconômicas ocorridas ao longo das últimas décadas, as diferenças quanto as condições de trabalho vivenciadas entre negros e não negros persistem.

Em 2012, os negros representavam cerca de dois terços da População em Idade Ativa (PIA) e da População Economicamente Ativa (PEA), enquanto que os não negros correspondiam a um terço deste contingente.

A taxa de desemprego para os negros de 12,6%, foi superior ao registrado pelo grupo dos não negros que atingiu 10,5%.

Neste período, a proporção de negros no contingente de desempregados da região correspondeu a 75,6%, percentual superior ao observado entre a população negra ocupada (71,7%).

Na composição setorial da ocupação, os negros acompanham o padrão verificado para os trabalhadores não negros, concentrando-se no setor de serviços.

No período de análise, 55,6% dos ocupados não negros estavam neste setor, contra 48,6% dos ocupados negros.

No Comércio e reparação de veículos, a proporção de trabalhadores negros foi de 21,7% e a dos não negros 22,9%.

O setor da Construção Civil é o que concentra a maior participação dos negros (9,2%), se comparado aos não negros (6,4%).

A participação dos negros nos Serviços Domésticos tem crescido, 9,3% dos trabalhadores laboram neste setor, em contrapartida a 4,5% dos não negros.

De acordo com o coordenador da PED pelo Dieese, Jairo Santiago, a desigualdade está cristalizada. “Temos redução da taxa total de desemprego, mas a desigualdade entre negros ainda é grande.

Os negros continuam exercendo trabalhos em funções menos prestigiadas, de maiores jornadas de trabalho e, consequentemente, de menores rendimentos.

No setor público eles estão sub-representados, já na construção civil e no serviço doméstico, que exigem menos qualificação profissional, os negros são maioria.

Só com a promoção da educação, a partir de políticas públicas que ampliem a qualidade e a oferta do ensino, que esse quadro será revertido”, frisou.

Mesmo com a expansão dos rendimentos médios dos ocupados no mercado de trabalho regional ocorrida entre 2011 e 2012, no último ano, o rendimento médio dos ocupados negros (R$ 1.041,00) representa aproximadamente dois terços (67,1%) do valor recebido pelos não negros (R$ 1.552,00).

E o rendimento médio por hora dos ocupados negros (R$ 5,40) equivale a 65,5% do auferido pelos ocupados não negros (R$ 8,24).

Para o diretor de Estudos e Pesquisas Socioeconômicas da Agência Condepe/Fidem, Rodolfo Guimarães, a herança da abolição continua perversa. “Na realidade a abolição deu-se restritamente no marco jurídico e isso aumentou consideravelmente o contingente de negros desocupados e sem formação intelectual.

O passado colonial escravocrata e sem inclusão socioeconômica dos negros tem reflexos ainda hoje”, comentou.