Foto: Clemilson Campos/JC Imagem Editorial da Folha de São Paulo Inspirado, sem dúvida, em sua recente aliada Marina Silva, o governador Eduardo Campos (PSB-PE) lança a proposta de transformar a ilha de Fernando de Noronha no primeiro território carbono zero do Brasil.

O plano é simpático, mas o político pernambucano poderia atentar igualmente para o quanto vem contribuindo para emissões de carbono nos constantes deslocamentos que realiza com fins eleitorais.

Desde que anunciou sua aliança com a ex-senadora, Campos tem ocupado mais da metade de sua agenda com eventos destinados a nada mais que nutrir sua candidatura presidencial em 2014.

A inspiração parece vir de outras fontes que as do ambientalismo e das supostas intenções de renovar a política preconizadas por Marina –que, seguindo roteiro próprio, oscila entre criticar a imprensa pela curiosidade a respeito de uma eventual candidatura sua e dizer, à mesma imprensa, que tem “toda a disposição” para ser presidente.

Campos não tem sido tão ambíguo.

Repete, na verdade, o que tem feito a presidente Dilma Rousseff, garimpando ocasiões para subir em palanques.

Pelo menos o site oficial da Presidência da República informa o motivo das viagens de Dilma pelo país.

Não é o caso do governo de Pernambuco, que sonega a informação de que, em vez de comparecer a reuniões administrativas em seu gabinete, Campos viajou a São Paulo no dia 10 de outubro para almoçar com aliados.

O presidente do PSB não deveria ter razões para envergonhar-se de ter recebido o título de cidadão piauiense.

Mas a cerimônia em Teresina, prestigiada pelo governador Wilson Martins, do mesmo partido, não tem registro nos anais palacianos.

Ao menos nada se disse na agenda de Campos.

Já o “Diário Oficial” de Pernambuco não demonstra o mesmo pudor.

Campos apareceu em 47 das 58 capas do jornal, só de janeiro a março deste ano.

Os dados se referem a período em que a campanha era menos evidente.

Como o lema de seu governo é “o futuro a gente faz agora”, não se pode atribuir a Campos o defeito da falta de descortino.

Seja como for, a promoção pessoal com recursos públicos continua no diário.

A edição de sexta-feira, 25 de outubro, traz uma foto do governador na capa.

A notícia é que o seu governo irá injetar, em 25 dias, mais de R$ 2 bilhões na economia do Estado.

Trata-se, na verdade, de adiantamentos salariais, e não de investimentos.

Seria o caso de dizer que o anunciado não é bem o que parece.

Mas, em termos de abuso de poder, é bem o que parece mesmo.