Por Noelia Brito Hoje, dia do Professor, não há muito a comemorar.
Foi-se o tempo em que o magistério era uma das carreiras mais respeitadas pela sociedade.
Pesquisa recente do Instituto Paulo Montenegro concluiu que a maior preocupação do professor, hoje em dia, é com a violência.
Por incrível que possa parecer, 68% dos professores entrevistados estavam mais preocupados com sua segurança no ambiente de trabalho do que com a estabilidade financeira (58%), com sua realização profissional (48%), em ter um bom emprego (38%) ou em não pegar trânsito (31%).
Outra pesquisa realizada pela Fundação Carlos Chagas, constatou que para apenas 2% dos jovens do Ensino Médio, o Magistério seria uma opção, apesar de 32% chegarem a pensar em seguir a profissão de professor.
Ocorre que pesariam “contra” essa escolha, fatores como “a falta de valorização social, os salários baixos e a rotina desgastante".
Uma terceira pesquisa, esta acadêmica, feita pela professora Romélia Mara Alves Souto, do Departamento de Matemática e Estatística do programa de Mestrado em Educação da Universidade de São João Del-Rei, em Minas Gerais, constatou que o motivo unânime da evasão docente é a desvalorização da profissão, associada às más condições de trabalho.
Durante os levantamentos, a professora Romélia fez pesquisa de campo nas redes de ensino dos mais diferentes estados da Federação.
Segundo seus levantamentos, em Mato Grosso, por exemplo, a média seria de 101 exonerações por ano, em Sergipe, 63, Roraima 18, Santa Catarina, 16.
Já no Rio de Janeiro chegariam a 350 e isso se considerada apenas a evasão na rede pública estadual de ensino.
Não são raros os casos de violência registradas contra professores dentro das salas de aula.
Para se ter uma ideia, no Espírito Santo, somente nos três primeiros meses de 2013, foram 73 os professores que pediram exoneração de seus cargos na rede municipal e estadual de ensino por não suportarem mais as agressões sofridas em salas de aula.
Os dados são do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Estado do Espírito Santo (Sindiupes), dos quais, pelo menos 10% se referiam a agressões físicas.
Durante o ano passado as agressões chegaram a 200, Segundo os registros do mesmo sindicato.
Segundo levantamento da Delegacia para o Adolescente Infrator de Salvador, 203 ocorrências teriam sido registradas no ano passado, naquela especializada, oriundas desse tipo de agressão.
A média seria de uma ocorrência por dia.
Em São Paulo, onde a rede estadual de ensino tem cerca de 230 mil professores, entre efetivos e temporários, o número de professores vítimas da violência dentro das salas de aula é assombroso, acaso confirmados os números denunciados pela Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo): 44%!
Em Natal, chegou-se ao cúmulo de uma aluna de 15 anos ameaçar uma professora, dentro da sala de aula, com um revólver, no mês de agosto passado e atirar no próprio pé ao sair correndo atrás da docente em plena perseguição para matá-la.
Sobre Pernambuco, o que dizer?
Que a política educacional que aqui se pratica, baseada em metas e não no atingimento do real objetivo da Educação que é formar cidadãos, presta-se, tão somente, a encher as burras de consultorias, como as da Universidade Federal de Juiz de Fora que tem sido contratada a peso de ouro e sem licitação, pelo governo de Pernambuco, do candidato à presidência Eduardo Campos, que promete fazer mais e melhor e que, no entanto, pagou, em 2011, mesmo ano em que sua própria polícia registrou nada menos que 80 casos de violência dentro das escolas públicas do Estado, R$ 28,4 milhões por serviços de promoção de ajustes nos procedimentos e objetivos do sistema de avaliação das escolas do estado de Pernambuco.
A mesma Universidade mineira, terra, por sinal, do tucano Aécio Neves, recebeu, já agora, em 2013, da prefeitura de Ipojuca, do prefeito tucano Carlos Santana, R$ 2,2 milhões, para a realização de serviços de Desenvolvimento de Padrões de Desempenho para o Ensino Fundamental, implantação de Sistema de Avaliação e de Programa de Formação de Gestores da rede Municipal de ensino do Ipojuca, também sem licitação.
A isso devem estar chamando de Nova Política, nos moldes apregoados pela sonhática Marina Silva.
Vê-se que o problema não é a falta de dinheiro, mas a falta de priorização do professor e do aluno.
A prioridade, pelo visto, são as consultorias, pois mesmo depois de dois anos dessa entidade de Minas Gerais ter recebido mais de R$ 28 milhões do dinheiro público do povo pernambucano, o ensino público de nosso estado continua tão caótico que o governador precisou utilizar uma faculdade particular para ilustrar seu programa eleitoral e, pior, pipocam nas Redes Sociais denúncias de alunos das escolas estaduais com vídeos mostrando as precárias condições das escolas de referência do Estado de Pernambuco, exibindo paredes rachadas, salas alagadas, um verdadeiro caos, de fazer vergonha a qualquer gestor, ainda mais a quem anda condenando tudo que for velho e mofado.
Aos mestres, no seu dia, dedico este texto, doando um pouco do que deles recebi, que foi muito.
Muito menos do que eles merecem, mas, acima de tudo, dedico-lhes meu respeito, que é muito mais do que eles têm recebido.
Defendendo-os, defendo a mim mesma.
Defendo acima de tudo os jovens e o futuro que sonho pra eles.
Defendendo-os, estou convicta de estar defendendo minha cidade, meu Estado, meu País e meu planeta.
Aos mestres, todo o meu carinho, sempre!
Noelia Brito é advogada e procuradora do Município