Por Ayrton Maciel, especial para o Blog de Jamildo Tercius, o Terceiro, consumia a sua vida a planejar a grandeza do Império Romano.
O poder é supremo, dizia.
Para Tercius, o poder tudo pode e, por ele, mais vale ser esperto do que sábio.
E, pelo poder, Tercius construiu uma verdade, exclusiva, oportuna e apropriada.
Pelo poder, a obsessão é um instrumento de planejamento, não organizado por estratégia única, porque muitos dos componentes identificados na capacidade de planejar são repetições, em todos os planos e em todos os tempos.
No entanto, os tempos mudam e as épocas avançam.
Nicolau Maquiavel, por exemplo, hoje, possivelmente agregasse novos conselhos e conceitos à sua obra O Príncipe, sem certamente ter o que excluir da época em que a obra foi escrita, ano 1.513, século XVI, completando 500 anos.
Na Era moderna, chamamos de atualização, uma versão contemporânea.
Uns poderão titular de propaganda ideológica, outros de marketing (mercado) político.
Este último, mais contemporâneo, pode ser entendido como a política como negócio.
No Brasil, como assistimos recentemente, os finais de prazo para a filiação partidária ou troca de partidos tornam-se um grande mercado.
Maquiavel poderia incorporar da política, dos políticos e da propaganda política nacional deste século XXI (algumas reeditadas, fazem lembrar outros tempos) recomendações novas em O Príncipe.
Ele vive ou se repete.
Pela leitura dos jornais e revistas sobre governantes e postulantes, das mensagens de TV e nas entrevistas de rádio, o historiador Maquiavel - a quem se atribui a paternidade da ciência política moderna - iria tirar inspirações para agregar a sua obra conselhos aos príncipes: a) misture verdade e ficção de tal forma e com tal astúcia que tudo pareça ser a primeira, e com aparato tecnológico de ponta que não deixe espaço para dúvida; b) propague - usando com habilidade as palavras e textos previamente estudados, transmitindo com tamanha convicção a mensagem, de tal jeito que ela torne-se a ideia prevalente - que aquele que a prega é o novo, e não que o velho é que é o novo ou que são a mesma pessoa; c) repita, o quanto for necessário, que o novo não tem nenhuma responsabilidade sobre o passado, e que todos que tenham tido, mas queiram renunciar em troca do perdão e da adesão a aquilo e a aquele que parecem novo, poderão fazê-lo.
Uma verdade construída pode ser multiplicada à medida em que for repetida; d) junte os mais distintos interesses, contrariados e opostos, e os mais antagônicos grupos ideológicos, tendo por argumento um mesmo fim - a conquista do poder - e sob o manto de um pacto alinhado em um programa de governo, que de tão superficial possa parecer que atenderá todos; e) incorpore à propaganda que a tua presença é única, como aquilo que é propagado, de tal maneira que impeça que outros te copiem, dissiminando-se a crença de que só tu podes ser a solução e o futuro.
Isso, mesmo que dados e índices te contradigam; f) fazei teus seguidores propagarem que foi tu que fizeste tudo de bom, embora que príncipes antecessores tenham, de alguma forma, sido autores das ideias ou das iniciativas; g) que não haja conflito de consciência para apresentar aos olhos dos vassalos e do povo cenários que não correspondam à dimensão dos fatos, uma vez que, pela medida dos escrúpulos, o povo nunca tem a iniciativa de questionar.
Ao final, o que prevalece é a mensagem, não a imagem.
Por essas e outras, políticos, contaremos a estória da farsa de uma boa conversa.
Porque, Tercius, imperador romanos, não existiu.
Mas, como neste artigo, o que não foi pode vir a ser.
Construído por uma boa conversa.
Ayrton Maciel é jornalista.