Por Jarbas Vasconcelos, no Senado hoje Acompanhei com muita atenção, mesmo estando fora do País, ao desenrolar dos acontecimentos que levaram à união do Partido Socialista Brasileiro com a Rede Sustentabilidade; o entendimento político firmado entre o Governador do meu Estado, Eduardo Campos, com a Ex-Senadora pelo Acre e Ex-Ministra do Meio Ambiente Marina Silva.
Esse é um daqueles episódios antológicos da História, com “H” maiúsculo, do tipo que será registrado para sempre, independentemente dos resultados que venha obter nas eleições presidenciais do próximo ano.
Como bem registrou a jornalista Dora Kramer, na sua coluna no jornal “O Estado de S.Paulo”, abre aspas: “Inesperado, surpreendente, competente, pragmático no melhor sentido da palavra e feito em termos decentes”.
Fecha aspas.
Creio que essa união entre Marina Silva e Eduardo Campos vem para quebrar essa perniciosa tentativa de dividir os Brasileiros entre o bem e o mal, sendo benditos aqueles que acompanham o PT e malditos todos aqueles que enxergam as coisas de maneira diferente dos petistas, como é o meu caso.
Essa falsa polarização, vale bem ressaltar, foi alimentada pelo próprio PT, que pretendeu vender a imagem de que o Brasil passou existir apenas a partir de 1º de janeiro de 2003.
O entendimento entre o PSB, a Rede Sustentabilidade e pessoas de diversas outros partidos pretende superar essa etapa da História Brasileira.
E nele estou engajado.
Precisamos deixar claro uma coisa: o PT não é o exclusivo depositário das coisas boas que ocorreram no nosso País nos últimos 20 anos. É verdade que o Ex-Presidente Lula deu sua contribuição, especialmente por não ter colocado em prática todas ideias extravagantes que o PT pregou como oposição no palanques e nos programas de Governo, antes de chegar à Presidência da República.
Lula manteve os pressupostos implantados com o Plano Real e ampliou a rede de combate à miséria e à pobreza extrema, que, apesar de reduzida, ainda prevalece, em especial nas regiões Norte e Nordeste do País.
Não podemos deixar de registrar que, infelizmente, existe um contraponto a isso tudo, que é o aparelhamento do Estado brasileiro, de uma forma irresponsável e temerária.
Com instituições e organismos, como o BNDES, por exemplo, servindo aos interesses de empresários simpáticos ou aderentes ao projeto de poder do PT.
Foi importante, muito importante que a própria Ex-Senadora Marina tenha tomado a iniciativa, na entrevista coletiva do último dia 5, de reconhecer que tanto o PSDB do Ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso quanto o PT do Ex-Presidente Lula deram suas contribuições para a posição de destaque que o Brasil ocupa hoje no cenário político e econômico mundial.
O certo, na minha opinião, é que sem a estabilidade econômica construída nos Governos Itamar Franco e FHC – com a implementação do Plano Real e de todos seus desdobramentos – o Brasil continuaria naufragando nas outras áreas.
Uma moeda estável é pressuposto básico para qualquer Nação. É preocupante quando vemos o Governo bancar uma nova renegociação da dívida dos Estados, quando sabemos que isso está sendo feito às vésperas de uma eleição.
Precisamos é de uma Reforma Tributária que redistribua os recursos públicos hoje concentrados nas mãos da União.
Guarda um simbolismo muito grande o fato de Eduardo e Marina terem sido ministros do Governo Lula.
Pois, eles não foram auxiliares apagados, sem expressão, como ocorre hoje com a maioria dos 39 ocupantes da Esplanada dos Ministérios – alguns que se forem vistos nas ruas não serão sequer identificados.
Marina e Eduardo tiveram gestões elogiadas, destacadas e reconhecidas, em duas áreas estratégicas para o futuro do Brasil que almejamos: Meio Ambiente e Ciência e Tecnologia.
Eduardo e Marina falam e falarão com credibilidade sobre o que avançou e deve ser mantido e sobre o que precisa urgentemente ser mudado no planejamento governamental.
Como ex-colegas da Presidente Dilma Rousseff, eles conhecem suas fragilidades, o seu jeito prepotente de ser – apesar de todo o esforço do marketing governamental para mudar esse perfil que, aqui, em Brasília, todos conhecem.
Esse cenário acendeu a luz de alerta entre os palacianos, que, apesar das dificuldades dos últimos meses, parece que não perderam a prepotência e a arrogância, demonstradas com requintes pelo marqueteiro João Santana, na agora tristemente célebre entrevista à revista “Época”.
Santana não apenas comparou Dilma Rousseff a uma deusa grega como classificou seus adversários de “anões”.
Politicamente incorreto ao extremo, para dizer o mínimo da coleção de baboseiras jogadas ao léu pelo quase onipresente Senhor João Santana.
Numa campanha bancada com recursos públicos, João Santana lidera uma campanha eleitoral sem disfarces.
O marqueteiro petista escolhe da roupa vermelha da Presidente ao discurso que ela faz nas Nações Unidas.
Ninguém sabe onde começa a chefe de Estado e termina a candidata à reeleição.
A História, Senhor Presidente, é marcada por ciclos.
E este ciclo de poder do PT está chegando ao fim.
O Brasil não acabará por causa disso. É chegada a hora do nosso País se permitir um salto qualitativo, para que possamos construir uma nova lógica governamental, sob outros parâmetros políticos e de gestão pública.
Tudo na natureza é assim: nasce, cresce, vive e, um dia, morre, abrindo caminho para a renovação. É o ciclo da vida Eu vislumbro na união entre Eduardo Campos e Marina Silva o melhor caminho para esse Novo Jeito de fazer as coisas funcionarem.
O desprendimento demonstrado por essas duas lideranças, no último dia 5, surpreendeu a todos.
Tenho certeza de que eles reúnem as condições para continuar surpreendendo, sempre de maneira positiva.
No entanto, Senhoras e Senhores Senadores, não deixa de ser irônico que petistas e alguns dos seus aliados venham a público questionar Marina e Eduardo por motivos opostos: a Ex-Senadora por pretensamente não buscar alianças, por ser uma radical, e o Governador por filiar quadros ao PSB nos Estados onde o seu partido é frágil.
O choque com essa união foi tão grande que perderam até o senso do ridículo, com a diversidade de sandices que os aliados do Governo espalharam pela Imprensa e nas redes sociais nos últimos dias.
Tragicamente, neo-aliados do PT acusam Marina das mesmíssimas coisas que diziam do Lula no passado.
Hoje, o PT fecha alianças como quem vende indulgências: quem adere ao Governo se transforma instantaneamente em progressista, engajado às causas nobres. É transformado num esquerdista benemérito.
Quem, pelo contrário, ousa discordar é apontado como reacionário, direitista, conservador e outros adjetivos menos nobres.
Chega ao absurdo dos concorrentes à Presidência da República serem comparados a “anões”, numa tentativa tacanha de desqualificar os adversários.
Essa lógica retrógrada e fascista precisa ser superada.
Por sua história de vida, por sua coragem e determinação em defender o que acredita, a Ex-Ministra Marina Silva precisa ser respeitada.
Essa união com Eduardo Campos representa um alento para que o Brasil continue tendo a esperança de que vamos superar nossas dificuldades crônicas; de que vamos transformar esse País numa Nação desenvolvida, na qual as oportunidades de progresso sejam asseguradas a todos e não apenas a um pequeno segmento da sociedade.
E isso só se consegue, Senhoras e Senhores Senadores, com a prestação de serviços públicos de qualidade, na Educação, na Saúde, na infraestrutura básica, de água e saneamento, na infraestrutura econômica, com energia, portos, aeroportos, ferrovias, hidrovias.
Tudo isso sob a égide do desenvolvimento sustentável, baseado na ética, compromissos estes assumidos publicamente por Eduardo e Marina.
O modelo implantado pelo PT esgotou.
As manifestações que tomaram as ruas do Brasil no último mês de junho estão aí para comprovar esse esgotamento.
A economia brasileira dá sinais, cada vez mais evidentes, de que está patinando e não tem condições de decolar como apregoa a equipe econômica do Governo Dilma.
As previsões para 2014 colocam o desempenho da nossa economia no último lugar entre os chamados países emergentes.
A estimativa de crescimento para o próximo ano caiu de 3,2% para 2,5%.
O noticiário econômico, nacional e internacional, apresentou, durante toda a última semana, dados preocupantes sobre a saúde financeira do Brasil.
A infraestrutura brasileira, apesar dos propagandísticos PACs, permanece como um quase intransponível obstáculo ao desenvolvimento do País e à busca por competitividade e eficiência, fundamentais para superar os desafios dessa economia altamente dinâmica do século 21.
E o que falar do legado que a Era do PT nos deixa na área política?
Um quadro de completa e absoluta degradação, com uma absurda pulverização partidária.
A propalada “governabilidade”, entre aspas – desculpa esfarrapada para acordos espúrios – é mantida com a distribuição de cargos públicos, secretarias, ministérios, direção de empresas estatais e emendas parlamentares ao Orçamento da União.
Escândalos e investigações contra integrantes do Governo passaram a fazer parte da paisagem.
O PT não inventou esse tipo de prática, Senhor Presidente.
Ela, infelizmente, existe desde a época do Brasil Colônia.
Mas é correto dizer que ocorreu uma piora evidente desses maus costumes, nos últimos dez anos.
Se fez vista grossa para os malfeitos, se passou a mão na cabeça de quem errou, de quem meteu a mão no dinheiro público em benefício próprio ou do seu partido político.
Faxina?
Só de fachada. É nesse cenário que vi com bons olhos e apoiei, ainda no nascedouro, o entendimento entre o Governador Eduardo Campos e a Ex-Senadora Marina Silva.
Ambos representam a garantia e a segurança de que as conquistas obtidas nas últimas décadas não serão jogadas fora.
Mas os dois representam principalmente a possibilidade de romper com esse atual círculo vicioso, com essas tentativas espúrias de dividir o Brasil, que surgem a cada eleição presidencial.
Tenho convicção de que no próximo ano será diferente. É cedo, muito cedo para se ter uma leitura precisa do que essa ousada união representará do ponto de vista meramente eleitoral, mas eles já são vitoriosos do ponto de vista político.
Também é precipitado e inapropriado reduzir essa aliança a uma questão meramente aritmética, de quem ganha alguns pontos percentuais na intenção de voto dos eleitores brasileiros.
Algum petista, não me lembro quem, disse que não existe “liga” na união entre Marina e Eduardo.
Talvez ele se refira à “liga” que uniu o PT ao meu partido, o PMDB, uma cola adesiva baseada apenas em espaços de poder no amplo cardápio ministerial de 39 pastas.
Foi por causa desse tipo de “cola”, de “liga”, que os brasileiros foram às ruas.
Só não leu bem quem é analfabeto político.
Não vão me impressionar, de forma alguma, as pesquisas de intenção de voto, neste momento.
Tenho o maior respeito por elas.
As pesquisas são instrumentos essenciais para avaliar o que pensa a opinião pública.
No entanto, só para refrescar nossa memória, quero lembrar os números do IBOPE sobre a eleição presidencial de 2010, divulgada em novembro do ano anterior.
Naquele levantamento, o então Governador José Serra aparecia com 38% das intenções de voto, contra 17% da Ministra Dilma e 6% da Senadora Marina Silva.
O Vox Populi trouxe números semelhantes: 36% para Serra, 19% para Dilma e 3% para Marina.
Os números falam por si.
Pesquisa a um ano da eleição quer dizer muito pouco sobre o resultado que sairá da urnas.
Qualquer pesquisa hoje vai trazer uma previsível vantagem da Presidente da República, que está em plena campanha eleitoral antecipada, ilegal e escancarada, inclusive utilizando recursos e a estrutura governamental – sob a ampla e total passividade da Justiça Eleitoral.
Mas ela jamais vai reconquistar aquela dianteira que existiu até os brasileiros irem às ruas, há quatro meses.
Eduardo e Marina não devem se intimidar por eventuais pesquisas desfavoráveis ou provocações do PT e dos seus aliados.
Eles vão sofrer agressões, maledicências, insinuações e tentativas de separa-los.
Mas Marina e Eduardo já enfrentaram e superaram toda a sorte de obstáculos que foram erguidos nos seus caminhos.
O PSB ousou ao entregar os cargos que tinha no Governo Federal e a Rede Sustentabilidade ousou ao se unir ao PSB para apresentar um novo projeto aos brasileiros.
Não é um projeto acabado, fechado, dogmático, pois o nosso País é muito mais complexo do que muitos supõem. É por isso que vejo como fundamental que o Governador Eduardo Campos e a Ex-Senadora Marina Silva busquem firmar entendimentos com outras lideranças, com pessoas de todo o País, de vários partidos políticos, que estão dispostos a construir um novo Brasil, que não vai simplesmente destruir o que está aí e foi conquistado a duras penas.
Vamos construir um Novo Jeito de apontar soluções inovadoras e sustentáveis para os velhos problemas que permanecem nos assombrando.
Quero concluir essa minha fala recorrendo ao pensamento de um brasileiro que dedicou sua vida a construir esse Brasil sonhado por Eduardo e Marina, o paraibano Celso Furtado, abre aspas: “Não tenho dúvida de que sempre existirá espaço para o exercício da vontade política, quando esta se manifesta com o vigor adequado”.
Fechas aspas.
Essa aliança entre Marina e Eduardo une isso tudo: compromisso, vontade política, vigor, coragem e determinação.
São os ingredientes necessários para que a gente acredite que um novo futuro é possível.