Foto: reprodução Por Terezinha Nunes, deputada estadual pelo PSDB Um dos maiores políticos brasileiros, o senador Ulisses Guimarães, disse, certa vez, que “não se pode fazer política com o fígado, conservando o rancor e o ressentimento na geladeira.

A Pátria não é capanga de idiossincrasias pessoais “, vaticinou ele, um homem que era capaz de enfrentar cães e cavalos, como na época da ditadura, mas que nunca deixou de dialogar.

Ninguém pode deixar de reconhecer a importância da união entre o governador Eduardo Campos e a ex-senadora Marina Silva, já prognosticado como o fato político do ano, e que alçou o pernambucano a um patamar bem superior ao que tinha até poucos dias atrás.

Sem tempo de TV, com baixos índices nas pesquisas de intenção de voto, perdendo quadros importantes do PSB como o governador do Ceará, Cid Gomes, Eduardo via desmancharem-se as chances de sair candidato a presidente dia após dia.

Os que esperavam, porém, na dupla recém criada, um sopro de esperança, viram, concluídas as primeiras comemorações e entrevistas, que o casamento se deu muito mais por Eduardo e Marina conservarem ressentimentos do grupo político do qual se afastaram – encabeçado pelo PT – do que o que afirmaram nas primeiras horas: o desejo de sepultar a velha política, coisa que casa bem com Marina mas muito pouco com o governador de um partido tão tradicional e tradicionalista quanto o próprio PT.

Coube a Marina colocar os pontos nos iis ao, logo na primeira hora, jogar na mesa toda a raiva que guarda do PT que, segundo ela, implantou o chavismo no Brasil.

Culpando os petistas pelo fato dos cartórios eleitorais do ABC não terem reconhecido as assinaturas necessárias para viabilização da Rede – o partido que pretendia criar – Marina não só tirou Eduardo do muro como jogou-o na oposição e, pelo andar da carruagem, não vai abandonar este caminho.

Mais comedido, Eduardo, que já vinha de um processo de afastamento do PT mas pretendia adiar o rompimento para 2014, acabou tendo que embarcar na onda marineira.

Embora também conserve uma boa dose de raiva na sua trajetória política, o governador é mais cerebral do que ela mas, aparentemente, perdeu o controle do processo vagaroso que vinha trilhando e deixou a emoção tomar conta da cena.

Da forma como se deu o casamento de Marina com Eduardo, embaralhando o processo sucessório, é possível que outros fatos surpreendentes ainda aconteçam até que as urnas sejam abertas em outubro do próximo ano.

Pode ser que o PSB e a clandestina Rede mudem ou avancem no discurso mas a raiva e o ressentimento dos dois líderes podem impedir até que ambos enxerguem melhor o que vem pela frente, deixando escapar a oportunidade de ouro que criaram, ajudando a encerrar o ciclo do PT.

Por ora, todavia, os outrora petistas (Marina) ou simpatizantes do PT (Eduardo) lutam muito mais para se vingar dos antigos aliados.

Marina é uma poço de mágoas e Eduardo descobriu que o PT ameaça dar-lhe o troco após ele ter reduzido o partido a uma pequena legenda na terra de Lula, Pernambuco.

E o pior: com o apoio nas obras e projetos federais que os petistas viabilizaram no estado.

O jogo só começou a ser jogado.

Por enquanto reúne muito mais ressentimento do que propostas, embora não reste nenhuma dúvida de que o gesto dos dois fortaleceu a oposição para enfrentar a batalha de 2014.

CURTAS Jogo pesado- Francisco Rocha, o “Rochinha do PT”, muito amigo de Lula e uma das principais lideranças do petismo no Nordeste, deu o tom do sentimento que toma o entorno de Lula sobre a aliança Eduardo/Marina.

Em entrevista esta semana chamou o governador de “Dudu Malvadeza”.

Votos – Além dos desentendimentos com o PSB de Paulista, município onde faz política, o deputado petista Sérgio Leite utilizou outro argumento para resistir ao assédio do Palácio das Princesas para que se filiasse ao próprio PSB ou PDT: os votos que tem no petismo e que poderia perder por completo se fizesse a passagem.

Murcho – Como esta coluna adiantou lá atrás o PSD murchou em Pernambuco com o fim do prazo para troca de partidos.

Ficou, como era previsto, com apenas um deputado estadual, Rodrigo Novaes.

Os outros, Francismar Pontes e Mari Gouveia, se filiaram ao PSB