A obra que expõe Eduardo Por Saulo Moreira, no JC desta quinta Com sua habilidade política cada vez mais reconhecida na esfera nacional, o governador Eduardo Campos foge de seu estilo e deixa um flanco cada vez mais exposto na cozinha estadual.

Não é muito do seu feitio ficar vulnerável a questionamentos, mas é exatamente o que vai acontecer em se tratando do programa de concessão de parte da BR-232.

Eduardo começa a oferecer um prato cheio a seus adversários.

Tudo bem que em Pernambuco não são muito os opositores, mas, levando-se em conta seu projeto presidencial – cada dia mais consolidado –, não faltarão críticos no País.

Para além de vaticínios superficiais, qualquer um percebe que o plano do governador para a BR é malfeito, incoerente e nada transparente.

E o que é pior: Eduardo erra quando poderia marcar um golaço.

A privatização dos 125,2 quilômetros da rodovia, em que pese a antipatia dos brasileiros ao tema “privatização”, poderia se converter em algo positivo.

Pagar pedágio não é um mal.

Em qualquer lugar do mundo, as pessoas preferem desembolsar uma quantia (desde que seja razoável, claro) e usar estradas seguras, largas, sem buracos, com policiamento e postos de saúde.

Eis, portanto, o primeiro erro do governador: para evitar o tranco político que um futuro pedágio parece provocar, optou por cobrar de todos os pernambucanos o custo da requalificação da BR-232.

Um cidadão que mora no Recife e não tem o menor interesse em ir a Caruaru ou vice-versa terá de pagar, contribuinte que é, igual àquele que usará a rodovia diariamente. É justo?

Bom, é no mínimo estranho.

Como vem mostrando o repórter deste JC Giovanni Sandes, o modelo pernambucano é inédito.

Inédito e repleto de distorções.

A principal delas é quase inacreditável.

Agride o bom-senso.

Como pode uma empresa interessada na obra ser a responsável em elaborar o estudo sigilosamente sobre esta mesma obra com dois anos de antecedência?

Como pode o governo não dar amplo conhecimento deste estudo ao mercado?

Ora, e se outra empresa também tivesse interesse?

E se um outro estudo fosse mais economicamente viável para os cofres públicos?

Sabe-se que o princípio básico de qualquer licitação é estimular a competição entre investidores e, assim, conseguir um preço mais justo, que pese menos no bolso dos contribuintes.

Em Pernambuco, no governo Eduardo Campos, está se fazendo o contrário.

A Odebrecht elaborou o estudo, entregou ao Estado e agora é uma das que “disputam” a obra, de quase R$ 500 milhões, e, principalmente, a provável ganhadora de um contrato de 25 anos (R$ 2,6 bilhões).

Este é o tamanho da fatura.

O processo começou torto desde o início, quando o governo se furtava a comentar o assunto.

Iniciadas as matérias no JC, manifesta-se utilizando a unilateralidade das notas oficiais.

E não consegue esclarecer os pontos acima.

Há até divergências entre o que a Odebrecht diz e o que anuncia o governo.

Todos os especialistas em parcerias público-privadas (PPPs) ouvidos pelo nosso repórter foram unânimes em apontar os erros.

O Grupo Odebrecht é um parceiro frequente do governo pernambucano, sobretudo nos últimos oito anos.

Está presente na PPP que criou a ponte pedagiada na Praia do Paiva; na estrada também pedagiada Express Way, em Suape; na Arena Pernambuco e na PPP da Compesa.

Olhando mais para trás, a Odebrecht, esta companhia que agora se propõe a requalificar a BR-232, foi uma das empreiteiras responsáveis pela duplicação e melhoria da mesma rodovia (Recife-São Caetano) no governo Jarbas Vasconcelos.

As obras, curiosamente, não foram aprovadas pelo Estado que a contratou porque o governo entendeu na época que a qualidade estava abaixo do acordado.

A questão da qualidade da obra foi parar na Justiça.

Paralelamente ao trâmite judicial, Jarbas e Eduardo brigavam sobre se Pernambuco deveria ou não ter utilizado dinheiro estadual (da privatização da Celpe) numa estrada de competência federal.

Divergências à parte, a duplicação foi feita e logo apareceram os reflexos.

Positivos, afinal, em última análise, contribuiu para a interiorização do desenvolvimento.

E negativos porque quem passa pela BR-232 hoje sofre com buracos, sinalização deficiente, acostamentos falhos e por aí vai.

A privatização seria uma boa oportunidade de se corrigir de uma vez por todas um problema tão histórico quanto polêmico.

Mas, infelizmente, a forma como o processo vem sendo conduzido por Eduardo não nos dá margem a boas perspectivas.

Legalidade e garantia de concorrência na concessão da BR-232