Por Roberto Numeriano Uma das vedetes da Ciência Política é a Teoria dos Jogos.
Nessa teoria há um tipo de jogo cuja soma é zero.
Ninguém ganha e ninguém perde.
Mas há, também, um jogo no qual apenas um jogador vence ou, necessariamente, vai vencer, uma vez iniciado o jogo ou disputa.
Pois é exatamente o que, acredito, já começou a ocorrer no mais recente empreendimento político contratado entre a Rede, da ex-candidata Marina Silva, e o PSB, do senhor Eduardo Campos.
Nessa nova sociedade empresarial, o mais acintoso e esdrúxulo esquema político que já observei (levando-se em consideração os discursos de ambos os protagonistas), Campos já é o único ganhador, quaisquer que sejam os resultados eleitorais na disputa majoritária de 2014.
Em termos inversamente proporcionais, a ex-senadora perde tudo, desde o discurso da “independência partidária” (tão ao gosto de certos políticos conservadores e certa classe média que adora flertar com o autoritarismo político), até mesmo suas bandeiras político-ideológicas messiânicas, mas que, na verdade, são a expressão periférica do conhecido bonapartismo de elites.
A aliança significa um mergulho de Marina Silva em águas políticas rasas.
Nessas águas habitam, desde seres que não necessitam de oxigênio, até aqueles com dentes de piranha, mas cuja boca é mesmo de tubarão.
Os seres que sobrevivem sem oxigênio são os políticos acostumados sempre a mandar conforme seus interesses particulares, a exemplo de Campos.
Os de dentes cortantes e mortais são aqueles dirigentes de máquinas partidárias, prontos para moverem o engenho segundo a ordem emanada dos patrões políticos.
Pois essa senhora resolveu lançar-se aí, como boi-de-piranha, encantada pelo canto de sereia desses bichos estranhos.
Se queria “independência” ou se afirmar como uma via “acima e além da esquerda e da direita”, navega, hoje, de mãos dadas com a velha política do fisiologismo centrada em barganhas de bastidores, sob o comando do mesmo travestismo político que, dia desses, ela alardeava ao denunciar o PT e o petismo.
Se queria ser uma “terceira via” charmosa, encantatória de gente cheia de amor pra dar nesse palco de ilusões que a política das elites pratica, anulou todo o seu cabedal político-ideológico ao se associar a esse negócio.
Sim, porque, de fato, quem se traveste de “terceira via”, com cinismo político exemplar, é o senhor Campos, cuja carreira política nacional resultou do apadrinhamento petista.
Campos é Lula com verniz ideológico moderno, mas com as mesmas práticas políticas do “rolo compressor” de oligarca que esmaga quem discorda.
Não há dúvida que Campos, bom aprendiz de feiticeiro, faz suas cabalas para desbancar o bruxo-mestre (o caso do Recife aí está para análise comparada).
Resta saber até quando Lula vai esperar para mexer as poções do seu caldeirão de horrores, e daí lançar os sortilégios diante dos quais Campos será sempre aprendiz.
Não há como nadar em águas políticas rasas.
No máximo, vamos chafurdar e espalhar lama.
O que advir desse lamaçal será sempre prejudicial a Marina.
A Campos, mais do que nunca, abre-se ainda mais o espaço de uma aventura política nacional que, qualquer que seja o resultado (mesmo uma votação pífia), terá dividendos no médio prazo.
Afinal, essas águas poluídas e mal-cheirosas de nossa política hegemônica são o habitat natural desses peixes.
Roberto Numeriano é cientista político, jornalista, professor e militante do PSOL-PE